Deitava na grama, às vezes, debaixo de uma árvore, e, sozinha, brincava de inventar palavras. Palavras em outras línguas, que não a sua. Nessa brincadeira que às vezes durava horas, brincadeira de repetir com gosto a palavra inventada, ia deslizando a língua no céu da boca, batendo contra os dentes, do jeito que os fonemas iam se acomodando. Algumas eram descartadas e iam pra uma lista do refugo.
Um dia, tão embebida estava com a inventação, que pensou ter inventado a palavra “vermelho”. “ver – me – lho”. Caprichava no erre e ia acertando com dificuldade o lh – que é um som difícil, como pôde constatar. E as vogais, mais abertas ou mais fechadas. E repetia e repetia. Repetia pra ver se, ouvindo sua voz falar, podia acreditar que aquela palavra existisse.
De tão cética, repetia mais e mais e já não sabia que língua falava, e, depois, nem mais quem era – aquela moça-menina.
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