quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Só tinha a gente naquela casa lá, de madeira, lá em cima. Nós, o mofo e o cigarro. Vestia uma camisa limpa que parecia suja e iniciávamos nossos rituais de fogo e acolhida. Líamos perto do fogo. De vez em quando, alguém cruzava a perna quase desconcentrando o outro e as palavras de uma frase ainda sendo lida pairavam pela cabeça, como uma dobrinha transparente.
O chá. Fazíamos o chá. Aliás, eu não.
E aquilo era todo dia. E parecia que só existiam noites, de tão escuros os dias. E a chuva lá de fora e, de vez em quando, o Cachorro Amarelo magro que vinha nos visitar.
Upon the hills. No rainbow. Chuva. Cascalho molhado. Casca de árvore apodrecendo. Liquens e relíquias.
Barro se refazendo sobre a chinela havaiana. E na verdade, havia felicidade ali, densa como o ar da colina, pesada. Não era fácil, leve como casca de sorvete. Era sisuda, era de por detrás da cortina, mas era uma de verdade. E não sei quanto tempo durou, porque fiquei sabendo pouco o que era tempo, passando aquelas páginas úmidas.
Minha felicidade de veias e braços com poucos pêlos e aconchego dos amores de Caio Fernando Abreu...

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