domingo, 26 de abril de 2009

She pretended not to mean it, but she would say: you’ve saved my life.
Quando perguntada, Beatrix Kiddo revelou que, pela primeira vez, sentiu medo da morte, justamente porque ela não estava mais sozinha. Então, a outra mulher da cena, another killer, a poupou, deixou-a viver e se esconder numa record store.
Got it?

j m barie

Quanto custa ao artista sua obra?
Quanto lhe custa?
Hoje pensei, como penso sempre, construindo esse pensamento em mim, que há sempre uma dor no artista. Sempre uma dor. Mesmo quando pareça um resultado feliz o que faça.
Looks like someone has to pay… Alguém gasta sua provável sanidade em prol de nos fornecer – mesmo que de maneira mediata - arte, ou, na interpretação de alguns simplistas, entretenimento.
Enquanto o vinho branco desce macio ou não nas goelas secas da galeria, há alguém de espreita. Mesmo que com luzes e louros, no fim, ao tirar as meias antes de deitar, ele sabe o que lhe custa e que nem tudo são os elogios, o valor, o merecimento. Não lhe cobre a agudeza de estar a todo tempo a mercê de ser o que é, de reflorestar sentimentos doídos e, pior, escancará-los da maneira mais crua e esquizofrênica, sem as lacas do bom comportamento. Mostram seu sexo, seu medo, seu escuro.
Já viu o Basquiat? Beuyes? Pollock? Actually, Fernando Pessoa, escrevendo suas barcas em inglês na África, se entregando à insônia de pensamentos mais doídos do que a morte de uma criança? Leonilson?
Olha lá, presta atenção lá, por entre o feixe dos respingos de tinta, entre uma coisa e outra, veja se não emerge a dignidade de se falar o que se fala, põe a cara no lugar, ajeita a sobrancelha e reconhece a coragem de se ser uma pessoa abaixo do cutâneo.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Uberlândia tem uma felicidade que incomoda. Não sei se é felicidade, mas um ensolarado que nunca acaba e nem desbota. Sol, sol, sol. Sibipirunas ensolaradas. Sete-copas derramando folhas no chão, na porta do boteco. Tias lavando calçadas (sem discurso sobre desperdício). Manhãs com sol baixo e frio de por a mão no bolso, até a hora em que chegue o recreio. E você, se estiver por lá, em qualquer rua, talvez em alguma calçada de desânimo, verá sempre que há uma criança voltando de mochila da escola, se entregando a pássaros cantando, luz de quatro horas, como se a vida fosse sempre aquilo, sem desapego, sem medo de não ir pra casa, te lembrando que esse seu olho de protagonista deveria se entregar a um pouco de cenário.

inevitável

Daffodil Lament - The Cranberries

Holding on that's what I do
since I met you
And it won't be long, would you notice
If I left you
And it's fine for some 'cause you're not the one
All night long, I laid on my pillow
These things are wrong
I can't sleep here
So lonely, so lonely
I have decided to leave you forever
I have decided to start things from here
Thunder and lightning won't change what I'm feeling
And the daffodils look lovely today
Oh in your eyes I can see the disguise
Oh in your eyes I can see the dismay
Has anyone seen lightning
Has anyone looked lovely
And the daffodils looked lovely today
Looked lovely
Apertei forte minha língua contra o céu da boca e me veio um gosto assim de batata doce, ou doce de batata doce. Pensei várias coisas. Vim cantando com lágrimas engasgadas. Coisas de quando alguém devia ter apertado um pause, uma coisa assim, pra que um ponto da vida durasse mais do que uma faixa do disco. Lembrei da conversa que tivemos no Rio de Janeiro. Nostalgia, por que não? Uma casa cheia de plantas como cenário. Canos que estouravam – e eram o único problema que tínhamos. Na verdade, existiam outros, falsos. E aquilo tomava um tempo idiota da gente... Podiam ter avisado que aquilo era tudo mentira. Mas, mesmo assim, dava certo. Havia tapetes, jantares, pessoas numa festa o tempo inteiro. E esses problemas de mentirinha iam virando casquinha de machucado, até uma hora em que, no banho, percebia-se que, cadê?, tinha sumido.
Ai, tantas salas. Tardes.

Só Daffodil´s lament pra me entender hoje...

quinta-feira, 23 de abril de 2009

27º


Anfitriãs:
- Valéria Lopes Ribeiro
- Laura Sampaio Salomão


Perdição:
- Bolinho de aipim (mandioca pra turista) com carne seca, do Odorico, em Botafogo
- Bolinho de camarão com catupiry e pastelzinho de angu com carne moída, do Bracarense, Leblon
- Pudim suíço, bolo de nozes, pastel de forno de palmito, viradinho de ameixa da Confeitaria Colombo

Look
- Meninos: cabelo encaracolado, barba por fazer, bermuda abaixo do joelho, tênis skater, pouca meia, camiseta (de noite ou de dia)
- Meninas: ah, deixa pra lá...

Interação
- Caninos no calçadão

Sound track
- À francesa - Marina Lima

Transporte
- ônibus/frescão
- vã van com Nuno Leal Maia
- pé dois
- táxi ao som alucinado de Michael Jackson

Outros olhos
- Arpoador
- Pão de açúcar
- Lagoa Rodrigo de Freitas
- todo azul do mar

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Minha alma é branca, leve e cavalga de noite feito assombração. No escuro, abrindo-se bem os olhos, pode-se vê-la, ou senti-la, de voil, de seda e gomos de algodão embaixo. Debaixo do lençol, ela faz volume e sonha sob ventos de telha e barulhos desconhecidos (cupins?).
E aí, tudo é convite como uma curva de quem deita de lado, de quem deixa um quadril sobressair, como na escultura em cerâmica.
De noite, sonho.

terça-feira, 14 de abril de 2009

quarta-feira, 8 de abril de 2009


Ontem, indo pra casa numa tarde cinzenta de chuva e faróis ligados ainda de dia, alguma conexão com uma névoa persistente e foi natural escutar o som de um caminho que existe entre eu e você. K´s Choice começou na pista com a impertinência de sempre (“not an addict”). E enquanto aquela voz rouca gemia, pensei, sim, nossa amizade não mudou, não mudou ao longo desses anos, mas..., e a gente? Onde fomos parar? Cadê eu, cadê você? Meninos de vinte anos descobrindo o mundo, desbravando sem pensar, sem culpa no cartório. Cadê nossa companhia um do outro? Seu carro sempre limpo, nossa presença, os discos, as músicas, cerveja em qualquer lugar, cadê tudo isso?
Eu não sei se me é suficiente saber que existem essas imagens na cabeça pra quando se quiser consultar, ou saber que um amor subsiste ao tempo sem a presença de seus personagens. Eu sou uma pessoa inconformada. In-con-for-ma-da. E as dores não me doem menos pelo entendimento, sou como uma criança que se representa no limite entre entender e permanecer querendo.
E então? Fico com esse esparadrapo aparente, destoando da minha roupa limpa - objeto de olhares no elevador. Fico numas migalhas de sentir perfumes em pescoços por poucos segundos e, depois, me valer da lembrança dos cheiros pra me embalar o sono. É nisso que pareço me resumir.
Nosso abraço é sempre tão apertado... Há verdade nele. Há verdade em nós nos abraçando...
De noite, com as pedras na rua a interagir com algum carro, em Munique, com a cabeça encostada no travesseiro pra não cair de tanta vontade, de tanta lembrança, eu sonhava, sonhava em afundar o nariz de lágrimas em você..., tantos momentos, tantos momentos em que segurava sua mão na minha debaixo da coberta... Depois, 2006, 2007, 2008..., olhar pela janela não aliviava, e eu suava a mão, suava, agonizava, e esperava ver o conforto do seu perfil no carro, cheiro de roupa lavada e perfumes, seu cabelo curto, longo, seu nariz de cartilagem dura, rescue, rescue...
Vou me salvando de necessidade, me agarrando nas gramíneas até a superfície, vou fazendo trinta anos, dez, vou ficando velha e menina de vontades e sonhos macios com cheiro de Comfort, porque não quero mudar por dentro, não quero deixar de esperar pelo seu braço na madrugada...

segunda-feira, 6 de abril de 2009

minimalismo necessário
















Acontecimentos
(Marina Lima e Antonio Cícero)

Eu espero acontecimentos
Só que quando anoitece
É festa no outro apartamento
Todo amor
Vale o quanto brilha
E o meu brilhava
E brilha de jóia e de fantasia
O que que há com nós dois, amor?
Me responda depois
Me diz por onde você me prende
Por onde foge
E o que pretende de mim
Era fácil
Nem dá prá esquecer
E eu nem sabia
Como era feliz de ter você
Como pode
Queimar nosso filme
Um longe do outro
Morrendo de tédio e de ciúmes
O que que há com nós dois amor?
Me responda depois
Me diz por onde você me prende
Por onde foge
E o que pretende de mim

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Tears roll down é o nome da música. De tears eles entendem. No meio de uma frase (“I wish you were my enemy...”), o inevitável se fez presente e, de vapor, nos dois olhos, por debaixo dos Ray Ban, pôde-se dizer que tears rolled down. Mas foram poucas gotas. Poucas, mas as únicas.

Eles sabem doer.
Why do people hurt people?

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Parecia filme. Filme, não. Livro – com cinematografias só na nossa cabeça. Eu tava no meio de um livro do Marcelo Rubens Paiva e não tava sabendo. Estorvo também poderia ser.
A mata, à direita, à esquerda, densa, engolia de canto de olho, sensual. Morros de contornos escondendo o todo. Eu, de admiração, soltava suspiros como desculpa para sorver todo aquele ar. E pequenas e puntuais florzinhas de um alaranjado fosco e rosa discreto. Me arredondei de todo o verde, deixei ser torneada de mato. Chuva, névoa, cobertura de morro. Chuva de verdade, sem exagero, sem espanto, mas, inteira.

No fórum, de repente, pessoas e mais pessoas, advogados se trombando, se beijando de rostinho, pessoas uniformizadas, mais pessoas uniformizadas. Manifestação do lado de fora. Só faltava a imprensa. E eu no meio de tudo. Anotando. Sendo alvo fácil de olhares dos velhos com ternos sem combinar. Mais pessoas uniformizadas. Parece que Minas Gerais inteira resolveu caber no saguão do foro, de repente. Senti uma nota de corredores que eu já conhecia.
O sol veio por instantes só pra agredir os olhos de quem visse a camiseta alaranjado-gás do aglomerado de gente do outro lado da rua.