sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

mão no bolso


Começou com uma música quase que ao estilo capela, o que, de repente, emendou no Uninvited, aquela música que mocinhas como eu esperávamos para ouvir no final do filme Cidade dos Anjos (quem lembra?). Foi um bom começo, a galera pirou, apesar de eu ter achado o pessoal da arquibancada muito quieto (meninas mineiras comedidas falando da festa do milho em Patos de Minas...). Anyway, quando a música Not the doctor começou, eu me senti no direito de descer um pouco mais pra poder ficar em pé e me sacudindo. Essa, que foi a primeira música do primeiro álbum que tocou, foi seguida depois de All I really want, com a presença da gaitinha..., isso mesmo, ela ainda toca a gaitinha. E ainda se remexe adolescentemente no palco, se agacha no chão, pula, bem ao estilo “menina do Messias Pedreiro”, como diria meu pai em 1996. As músicas novas são muito bonitas, com vocal trabalhado, o que provocou na Branca comentários de que “agora ela aprendeu a cantar...”. O problema é que eu não aprendi a cantar as músicas novas, então, minha empolgação, naturalmente, era maior com as antigas, aquelas do Jagged Little Pill, um dos grandes álbuns dos anos 90, sim, senhor, pelo menos bastante influente para meninas como eu (e, pelo jeito, a menina que continuo sendo... hehe...). Então teve, além das que eu já citei: You oughta know, You learn, Head over feet (ai, ai...., eu suspirando), Hand in my pocket, numa versão acústica (ai, ai..., eu suspirando II), Ironic.
Voltei pra casa satisfeitinha debaixo de chuva, lembrando de tanta coisa, lembrando de mim e dos momentos mais doces que vivi no embalo dessas músicas... quando a gente andava de calça jeans, moletom amarrado na cintura e caderno em frente ao peito, quando a gente sacudia a cabeça sem doer, quando a gente se sentava no chão, ou desafiava a tia do recreio, roubava beijos na quadra coberta..., lembrei de ter lembrado de tudo isso, lembrei de quem quis lembrar junto comigo... Felicidade, frescor e mão no bolso.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

a bird came to me.
my hummingbird showed itself to me. and I just flew away with it.
fear. no fear.

três momentos




Totally muse...


Pus a cabeça pra fora da janela do carro, fazendo penteados com os cabelos. Gostei de me arriscar assim, foi bom, quase difícil de respirar, mas era uma corrida de coração que dava medo e suficiência pro meu momento. O olho lacrimejava da pressão toda do vento e eu aproveitava pra chorar de alegria, meio escondida. Compus a cena, fotografei em mim, e vou lembrar pra sempre do verde do lado de fora, o meu azul formigante, do lado de dentro.
Eu era criança, eu sou criança, sou inteira.
Ai, ai..., meu coração de papel... derrete na chuva...

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Minha esperança veio a galope...

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

get it while you can

Don´t you turn your back on love

23.01 08:08

"It´s easy to fall when you float like a cannonball..."

22.01 12:20

It´s gonna take five, it´s gonna take long, long years till I get over you.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Cheirava a fumaça a casa. O que era bem natural pelos resquícios da presença do fogão à lenha, que quase nunca se encontrava completamente apagado.
O silêncio da tarde era participado de um liga e desliga do motor da geladeira e um tic-tac de um relógio antigo e persistente sobre o armário de metal da copa-cozinha.
Nenhuma poeira, apesar da terra vermelha de agosto do lado de fora da janela, de onde se avista um cachorro amarelo com dificuldade e preguiça de se coçar.
O chão de vermelhão parecia um espelho de gelatina imóvel, convidando meus pés a fazerem barulho com a borracha do solado.
Algum mosquito – mosca, como poderia querer traduzir um menos amineirado.
Os dedos, antes engordurados pelas peles e caldos, manchados do ocre do açafrão, agora cheiravam a sabonete verde barato – educadamente deixado sobre a pia à minha espera.
Os dedinhos dela tilintando sobre os joelhos. Frenéticos e falantes, os dedinhos, ocupando o espaço da timidez da falta de assunto – o que, também, não pode ser notado, já que a boa sala não se faz em silêncio.
A senhora, que quase não se sentava no sofá, a não ser nesses raros momentos de visita, vez por vez, soltava um melancólico e inspirado “ai, ai...”
O tempo parou. Eu não tinha vontade de sair dali, nem mudar o rumo da não-conversa. O que entorpecia era o mesmo que ligeiramente incomodava, mas a sensação de falta de pressa – coração desacelerado – era mais anestésica e envolvente como o cravo do doce de casca de laranja.
Me deixei ali, o olho a arder de enxergar aquela tarde amarela no meio do nada.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

red bandana

Existem umas ondas, um transporte de partículas e sensações, uma via de comunicação que manda um recado no ar, um grão de pólen pro seu nariz de memórias. Eis que o Raoni foi nos buscar no aeroporto de Rochester, na volta da viagem à Florida, e errou o caminho para Brockport. A plenitude do branco, refletindo, nos seus cristais, os vários raios de sol das últimas duas horas de sol do dia, tudo aquilo mostrava uma poeira elétrica no ar e entendi o recado quando começou a tocar Me and Bob McGee, da Janis, coisa da Branca Puntel, claro. “Laralaralara...” E era um momento red bandana style, uma vontade de sair rasgando de costa a costa, leste a oeste, me encontrar deitada sobre a grama, ou numa garupa, peito aberto e tudo na cabeça.
Ê, Branca, deixa você comigo...
Esse 2009 promete...

a tali da Times Square...

e o cara não deixou eu chamar aquilo de salsicha...

recalculating


Três mineiros em Nova York, descobrindo o que é queimar a cara no frio. O rosto fica vermelho na hora, mas depois continua. Somos marinheiros de primeira viagem, pensamos, mas, aí, depois descobrimos que o frio lá não ta normal nem pros gringos (aliás, lá, os gringos eramos nós...). A não ser pra uns machos de bermuda e moletonzinho fino - inspiração para seu Valdemar.
Em Niagara Falls, o japinha pega um torrão de gelo e arremessa, querendo atingir a “cachoeira”. Acho que se empolgou demais na cena do Super-homem. A japinha mais velha, talvez mãe da figura, me olha de canto de olho, com ar de deboche pela cena vista.
Em Niagara Falls também tem flanelinha, no velho estilo (old fashioned). Um fica na esquina pra contar que tem vaga lá em cima. O outro fica no estacionamento, tentando falar em espanhol com você. Cincão ($$!). A diferença é que a gente paga antes. Aliás, tudo nos Estados Unidos se paga antes. É um medo do povo sair correndo e não pagar, sei lá. Estacionamento se paga antes, comida se paga antes, cerveja na boate, no bar. Só não se paga antes no restaurante, mas, mesmo assim, quase, porque trazem a conta sem você pedir. E ai de você se você permanecer no restaurante, ainda mais se for chinês, como o Ho Ho, em Greece, onde a comida é noventa por cento doce. E, por falar em doce, o americano é chegado num doce. O que é doce é mais doce (como o doce de batata doce...), e o que é suposed to be salgado, é doce. A costela de porco vem doce, salsicha vem com melado - acompanhamento das panquecas (“melado é melhor do que geléia”, diria o Homer), assim como frangos caramelizados para o olho comer. O sal é mais salgado também, juro. Mas a comida é sem sal. Então não sei a medida que os gringos usam, deve ser pipeta...
A velharada da Florida é toda garotona. Aliás, os seniors, que é a palavra politicamente correta para os grandpas. Eles usam tatuagem, uns têm cabelão, com suas respectivas a tira-colo. Andam de Harley Davidson, carrões conversíveis como Porsches, Lotus, Ferraris. Muitos veteranos de guerra para muitas guerras, como lembraria o Ita: Vietnã, Coréia, Golfo, Iraque, e por aí vai. Os nossos heróis pracinhas, se estiveram dando conta do tranco, serão, no máximo, os reminiscentes da Segunda Guerra Mundial.
Os recos novos, vestindo as fardas camufladas com desenhos que, de perto, percebe-se, são pixels abertos, fazem barba coletiva no banheiro masculino no aeroporto de Atlanta. Pelo jeito, estão indo pra casa. No folheto, o governo “convida” abertamente para que os chicanos, os latinos, e quem queira, ingressem na Marinha, pois conseguirão cidadania americana. Na cara dura.
Raoni era o pai. Nos comprou roupinhas de frio para vestirmos no aeroporto de Newark, New Jersey. Dentro do carro alugado, um Volkswagen Jetta, batata frita Prinkles, Doritos, Capuccino gelado (gelado mesmo) da Starbucks, Gatorade, sucos Del Valle, água, Red Bull, chocolates, travesseiro, coberta. O índio, além de ter alugado o carro, nos reservou hotel e era o motorista (“pai, falta muito pra chegar?”).
O GPS, aliás, a GPS, uma vez que era uma moça que nos emprestava a voz, foi mamata essencial. Se bem que a pobre, coitada, ficava biruta em Nova York, aí, a bichinha soltava o “recalculating”.
A neve branca no norte. A mangueira florindo no sul. A lua, só vi na Florida, e na despedida, no aeroporto. O cabelo do Raoni congelou. A Maíra escorregou, quase caiu. O Ita empolgou com o jogo de dardos. Guggenheim, Central Park, em Nova Iorque, Smoke House, em Brockport, a Soho, em Rochester, shopping, em Greece, frio em Buffalo, o mar, em Fort Lauderdale, os loucos de South Beach, a neve, a neve, e três meninos que nunca se separaram, três que nunca crescem, que não param de rir na madrugada, dormindo juntos nas camas emendadas, escaneando as imagens do cenário, cantando e contando besteira, as mesmas, ao longo desses anos. Os três Oliveira Borges de nascimento, do Saraiva, de Porto Alegre, do mundo, foram lá e puderam, foram lá e beberam, tomaram, sorveram o sorvete, desenharam no céu de Manhattan, riscaram o chão, dançaram o fandango e mostraram que ninguém tasca nesse amor entre três irmãos.