terça-feira, 29 de novembro de 2011


(Se eu morrer hoje, saiba que é por sua causa.)

Eles queriam refazer aquilo que poderia ter sido a única viagem boa que havia acontecido. Pelos menos, em tempos mais genuínos, aos olhos dele.
São Luís. “Lembra daquele amorzinho gostoso que a gente fez na praia?”
Areia, águas, sal, doce. O mesmo restaurante, o mesmo café onde havia aquele sanduíche. Ela poderia dançar o reggae, ele prometeu, poderia se esparramar, faceira como ela gostava de ser antes, espalhar os cabelos negros, perfumando o ar. Ela poderia, ele prometeu. 
Mas ela, economizando todo aquele momento, sem briga, imaginando o mar, pensou não saber se teria coragem. Mas se alegrou, acreditou, não quis se arrepender. Comprou um biquini branco para a pele mais morena, fez planos no ouvido e também prometeu. Prometeu, imaginou, pensou que podia dar certo.
O vestido ramado. As pernas se movimentando no relevo da areia. Raio de sol queimando. E olhá-la contra o sol, de revés, fazia aquilo parecer uma aparição.
Ela podia ter esquecido que era aquela mesma praia, naquela mesma praia. Há tanto tempo atrás… Mas, na beira do quiosque, o telefone público… o telefone, onde há tanto tempo, falava com alguém porque o radio tocava Marina Lima…
Há tanto tempo…
Ela pensou que ia dar certo…
acho que eu mereço ganhar o prêmio nobel da paz...

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Outros olhos e armadilhas...

domingo, 27 de novembro de 2011

Bella...
ruas, ruas... ruas molhadas. ruas...

domingo, 20 de novembro de 2011


Posso amar a Marina Lima? Amar mesmo, de verdade?
Queria que ela fosse minha mãe, minha mulher, meu troféu numa caixa de vidro, minha voz, meu estilo. Queria ser ela. Queria pagar o preço de ser ela.

you're so fucking special

got up too early today. ou será que nem dormi? pensando em coisas, esquecendo que ressaca era uma coisa de que eu tinha esquecido. fico na cama sem lençol pra diminuir qualquer possibilidade de lembrança. não quero que outros pertençam ao meu lugar aqui. só eu, meus devaneios e meu cachorro.
ontem, por um triz. ontem, na beira do abismo. como teria sido hoje, saber que teria feito? a mensagem ficou presa num buraco do meu peito. suo, tremo, sou estômago se contorcendo. e morcheeba parece um mantra.
ah... minha reza... por cima dos prédios, debaixo d'água. em basel, em berna, baden baden... dentro do trem, no pouso do avião, no se pôr do sol, em ipatinga, em brasília, em brasília... me sinto vigiada como num espelho. faço tudo como se estivesse sendo observada - eyes wide open...
na estrada, uma cruz no canto. um recanto pra alguém que se foi, com flores de plástico, velas.
em trindade, em goiânia, no ônibus velho, na rua, pelas ruas que ando, meu olho alaranjado não sabe mais o que vê, o que imagina.
te vi entrando aqui, no claro, no branco, ao pé da porta... será verdade?

sábado, 19 de novembro de 2011

555 postagens? ops, agora, 556...

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

era para ver se tinha chegado um e-mail que eu mesma tinha me mandado. mas alguém deixou a página aberta nuns e-mails antigos, 2007... acabei bisbilhotando, até que vieram 10, 20, 30 e-mails sobre uma coisa só. dói. doeu.
queria tanto saber quando é que aconteceu, quando é que eu tive que parar de dizer que sentia saudade, que amava, dar boa noite, bons sonhos, dizer que queria ouvir sua voz. queria saber quando é que foi proibido.
havia tanto nós, e somente. mesmo quando não sabíamos. estávamos no meio do deserto. e hoje tudo isso me fez lembrar tanta coisa. há quanto tempo...
dói não só de lembrar, mas de não mais ter. sonhos que ficaram tão escondidos num armário. sonhos que tento inventar outros, que tento inventar pra mim mesma. vão ficando réstias cotidianas... uma melhoria no trabalho, um estudo, um imóvel, cores em uma parede... vou fingindo que tenho outros sonhos que não os que sonhei, que não os que sonhamos. no dia depois de outro dia vou alimentando uma coisa de evitar, de achar brechas, de poder, simplesmente, estar com as pessoas outras da minha vida - me aconchego em irmãos, pintamos um quadro de família, acrescentamos cachorros. mas, mesmo parecendo tudo suficiente, falta algo, falta alguém - único que poderia ser sem ser, pertencer sem ter que pertencer, alguém que não seria nunca sobra, por parecer sempre ter sido parte de mim, do que é meu.
a casa era fría, ampla, perdia-se de vista, mas havia pessoas. havia as pessoas e tudo se esquentava como que na beira da lareira. e do meu frio nascia mais coisa. do frio que sobrou sem as pessoas restava ainda um acalanto, restava ainda o ânimo que me confortava, ombro que me viu chorar como nenhum outro, mão que se suava junto da minha por não abandoná-la.
e hoje... hoje... nem se fosse uma desculpa pra existir. nenhuma dor de outro lado há para que a mão volte a me segurar. hoje, a única dor que existe é a dor em si, a dor de saber qual é a dor que existe.
estou alvejando todo o céu com esses dizeres de madrugada querendo, pensando na cama fria da espera, braços que estão sempre querendo mais um cobertor.
amanhã é sexta-feira. será mais uma sexta-feira?
madrugada... toma-me pelo inevitável....
"boa noite..."

quarta-feira, 9 de novembro de 2011


E São Paulo me convidou de novo, me acolheu, me cobriu como a névoa da madrugada.
O frio é só uma desculpa pra encostar, se envolver na coberta, no banho e se aquecer.
Eddie Vedder continua lindo, congelado nos seus trinta anos, quando se riscava de caneta no acústico da MTV. Nos avisa, com a voz rouca de sempre, que parece extrair uma dor: we belong together, together… Black… Cinco horizontes e o céu vermelho. Chorei como um presságio…
A música foi motivo de tudo e se fez presente mais uma vez. Museu da casa brasileira, com barroco e velhinhos entravados em cadeiras de roda, mas se fazendo representar, com seus cuidadores, num domingo de manhã. A moça negra magra na flauta doce, a senhora no cravo – que depois, de mãos dadas, passeava pelas paredes com o neto (ou bisneto). Crianças no pomar, crianças viajando, como é de praxe. Jaboticabeiras, jambo, banheiros e mármore. História.
Arte na Paulista. Um colecionador de atos libidinosos, escracho na arte séria. Coleções de bagunça no Itaú Cultural.
Arte, arte, arte. No cinema, na esquina. Louise Bourgeois como fuga. Pela que arde na minha pele e na cabeça sem dormir. Almodovar me reconquista como um amor antigo, com seus traumas, defeitos, surpresas e particularidades. Vou em rumo da redenção. Identidade.
No Salim, a Dona Nágila, enebriada de elogios, em relação à sua comida, em especial, a kafta, que desmereceu qualquer tentativa por aqui, aproveita o entremeio pra passar um batom, antes de nos receber no caixa. Anis pra perfumar por dentro e por fora.
Antes, comida italiana no quintal. Delicadeza como na casa de avó…
Boas companhias. Ita, Raoni, Kássia, Kelly, Rafa, Ju, Pablo, Miguel, Gica, Carol… Sweet as home…

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Por Não Estarem Distraídos, de Clarice Lispector


Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles.Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração.Como eles admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto.No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram.Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios.Tudo, tudo por não estarem mais distraídos.

Hoje, ele parecia só um babaca, um bobo, idiota, grisalho. Tão diferente daquele dia em que conversamos tanto naquela mesa de bar, ninguém mais em volta. Era eloquente, mirava o porta-guardanapo. Política, literatura, música… “Atrás da porta? Você também gosta? Mas é tão dor-de-cotovelo…”E risadas e gargalhadas e idas ao banheiro.
Pra onde vai todo o encantamento? O que era tímido, engraçadinho, agora era só o ranço de uma fraqueza, insosso. Parecia que aquela fagulha de vida só se acendia nos tempos em que eu estava perto… e agora? Modéstia à parte, tenho sempre essa risada, meu signo e ascendente, minha casa, minhas plantas, plumas e frou-frous que esparramo por aí – eu me esparramo por aí. E ele? Enrustido em roupas escuras, lãs. Nem sei o que é isso que sinto, mas, sinceramente, não tenho pena nenhuma…
Por enquanto, não posso dizer nada, nem sutilmente. Aos que assistirem, e que o façam por inteiro, ficam aqui uma boca e um ouvido. Só antecipo (e me contradigo) que foi o filme mais pesado, mais cheio de elementos e mais inquietante que já assisti de Almodovar.
Estou aqui pra quem quiser conversar. Quem sabe, depois, um texto desse todo fervilhar...

quinta-feira, 3 de novembro de 2011