terça-feira, 28 de dezembro de 2010

eyes wide shut

Os olhos não vêem o que as luzes não mostram. O que as luzes fantasiam? As luzes das árvores de natal mudam de cor.
Os olhos querem ver e querem ser vistos.
São a janela da alma? Olhos são luz. E, à noite, numa cidade-neon, o que se vê no escuro?
Os que os olhos não vêem, sonham...

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Blade runner blues. Nave espacial. Final de ano e o meu olhar capta alguém se encolhendo da chuva debaixo da ponte.


E que cor terá o céu de 2011?

Que cheiro, além desse sabor de tangerina que me veio agora à boca?

2010 foi a dor e a delícia e a mútua convivência de ambas. Sei quem sou e convivo comigo assim. Gosto de mim, mas o problema nem é esse. Gosto também de outras pessoas. Amo. E, de vez em quando, ao invés de ser só essa pluminha persistente, o barulho de um plástico batendo durante toda a viagem, ele explode, o meu amor, e sangra em intensa hemorragia, quente, colorindo o braço, o joelho e todas as minhas memórias que saem de um minúsculo buraquinho de vulcão. Pode ser alguém que passou com um cheiro, a noite num posto de gasolina, um cabelo de alguém numa fila...

De todo modo, quero mesmo agradecer por 2010. Quero agradecer (e agora, o gosto é de jambo...) por me deixar vir à tona, por me deixar um pouco de quotidiano que, no fim das contas, luto pra ter, em meio a tanta maré e enjôo.

Contas a pagar, poupança, contas pagas, dinheiro na poupança, toda a luta pela manutenção, como diria Tunai. E não é isso? Queremos arte – e eu a quero, sobretudo –, mas, e se o quotidiano vira arte? E a arte de tornar quotidiano arte? Vou lutando pra assim conceber. E não é fácil, às vezes, nem o conceito de pássaros parece desafogar o entorno. Penso, numa fila do fórum, uma colega do lado com perfume forte (“tenha paciência para aguardar o troco do Xerox”), será que decepcionei meus pais? Será que dão um sorriso amarelo quando alguém pergunta: e a Maíra, o que anda fazendo? E quando vejo alguém dedilhando um violão, quando alguém, batendo o atabaque, fecha os olhos em direção ao céu, quando tudo me arrepia, sei o que é, sei que alguma coisa pulsa e não é por causa de filas, nem roupas apertadas que te fazem suar as axilas... Ai, ai... Que vontade de me dedicar a um ócio que penso merecer... Uma fogueira, uma rede, um mar na Grécia, o som de cachoeira... Cachorros em roda, filhos, talvez, água e piscina e coqueiros, um amor do lado (ou será que só e ainda na minha cabeça?)... Chuva, nuvem e céu, tudo a seu tempo e eu com a dita sabedoria de esperar sem esperar...

Frutas, derramem todo esse mel e suco goela abaixo. Sei que nada de pior poderá acontecer, já tive o meu momento e nem que seja pra subir em cima de um toco, saberei o que é superar e sei que passou...

Só não passa o amor de amora madura se derretendo no coração.

Vem, 2011! Vem, que quero ver que cara você tem!!!

domingo, 12 de dezembro de 2010

do you want to be?

ter, no mínimo, uma visão de terceiro mundo faz toda a diferença...

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

domingo, 5 de dezembro de 2010

it's raining again...
Love Is Stronger Than Pride

Sade

I won't pretend that i intend to stop living
i won't pretend i'm good at forgiving
but i can't hate you
although i have tried
mmmm
i still really really love you
love is stronger than pride
i still really really love you
mmmm
i won't pretend that i intend to stop living
i won't pretend i'm good at forgiving
but i can't hate you
although i have tried
mmmm
i still really really love you
love is stronger than pride
i still really really love you
mm mm mm mm mm
sitting here wasting my time
would be like
waiting for the sun to rise
it's all too clear things come and go
sitting here waiting for you
would be like waiting for winter
it's gonna be cold
there may even
be snow
i still really really love you
love is stronger than pride
i still really really love you
love is stronger
i still really love you
love is stronger than pride

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

picture yourself as a new yorker´s editor or writer, or anything...
drinking up your coffee, staying up late, going for deadlines...
sweet tough life...

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

por que não amoleço seu coração, como peça de fígado - essa esponja de sangue?
Chuva, chuva, chuva... para todos os lugares... às vezes, olho um vulto na janela,
Acho que é Genalva a me espreitar...
Sei que ela nunca vai me deixar,
Em qualquer momento, vai sobrar um rastro, um borrão de gordura no vidro
Uma sombra dela a me olhar
A saber o que verdadeiramente eu sinto por dentro...
O meu problema é que estou entre a arte e a burocracia

Entre o devaneio e a folha de ponto
E fico de lá e de cá até cansar
Cansada como estou agora
Recitando, dentro de mim, dores-de-cotovelo-de-Maria-Betânia
Chove
As nuvens, de novo, rimam
Com a música que passa no radio
Falta arte e sobra tanto suspiro
Sei que me prejulgo
Mas essa risada no corredor é a minha própria companhia
E não posso perder a companhia de mim mesma

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Por você vou roubar os anéis de Saturno...

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Iramar... tem 29 anos que você tomou o lugar e o peito...
29 anos que deixei de ser filha única, mesmo antes de aprender a ser...
ficou com meu berço, meu penduricalho de libélula - consoante proparoxítona... e já veio como irmão, menino que chora na fotografia, deixando todo mundo ser.
debaixo do cavalo ou da árvore, você aponta o dedo... tanto o que mostrar... eu sempre te ensinei tudo, na cara-de-pau... vísceras num dicionário ilustrado de inglês, banho de verniz.
mas seus desenhos sempre foram mais bonitos. você inventava todos os desenhos. você era quem conseguia inventar...

(parece que não acabou aqui... mas nunca vai acabar...)
Home sweet home... mit meiner Mutter bei mir zu Hause...
Será que amanhã teremos carne de porco?

terça-feira, 9 de novembro de 2010

O que Mocinha sente é falta do seu amor. Aquele só dela, do coração, aquele que não sara, como ferida ruim de curar. Sente falta do seu santo e culpa por tê-lo matado de verdade, para reacender o amor morto, pois o amor, de carne e osso, ela não conseguiu amar.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Cloud nine num dia de muitas nuvens no céu...
Se for nostalgia demais, me perdoe, mas é assim mesmo... descalça aqui, lembrando de quando a gente ia ajudar meu pai a arrumar a biblioteca.
E essas memórias passam a ser as mais importantes, como o Raoni ter atribuído ao fato de gostar de vender pneu velho com meu pai... Go figure... But I do.
A guitarra desliza e era 1988, não era? E era importante, ali, no intuito de ajudar, montar as caixas de papelão que serviam de arquivo. E aí, encontravam-se relíquias também, bem explicadas e situadas, como o desenho de um monstro dirigindo um carro de corrida, revistas em preto e branco de fotografia italiana. E gavetas e cheiros de gaveta, onde havia uma caixinha com preciosidades, notas antigas de dinheiro, uma caneta dourada, um escaravelho.
Tudo isso e só isso.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Uma sala, pessoas conversando de cantinho e sonhos que um dia foram sonhos viram dados, contas, débitos...
“O apartamento de Taguatinga vale 300 mil...”
“E o que os meus pais têm a ver com isso?”
“Você ficou com tudo...”
“E as crianças?”
Uma viagem à praia e ele te abraçava no sol quente. Hoje, as fotos foram rasgadas. A barba de que você gostava, agora grisalha. Não lembrava mais que ele tinha um leve estrabismo no olho direito, hoje, aquilo salta aos olhos de qualquer passante. Uma camisa branca (nova? quem será que comprou? ele detestava comprar camisas...). O calor e o suor discreto. Hoje é quarta-feira, preciso fazer compras – e a voz dele ecoando... Me desligo e penso, também, o quanto envelheci, o quanto o meu medo se petrificou e virou garantia de uma postura de alguém que foi feita pra ficar sozinha. Dedicar-se aos filhos, sempre uma boa desculpa. Naquele banco duro de fórum sabia que não queria nunca mais sentar.
A saia da moça que chama os nomes era bonita. Mas não notaria isso hoje, talvez outro dia, numa fila de supermercado, não ali. E os fones de ouvido pendurados, ainda tinham Enya ao fundo, que tinha esquecido de desligar.
Hoje é quarta-feira, e não posso me esquecer de buscar a Fafi no balé.
“Se vendermos o apartamento de Taguatinga...”
Hoje é quarta-feira, tinha uma reunião no trabalho.
“E precisamos ver isso logo, porque tenho que pegar o vôo de volta...”
Uma quarta-feira, só mais uma quarta-feira e um aperto de mãos... talvez o último...

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

pode parecer óbvio, mas, neste último fim de semana, descobri/pensei que não quero cometer os erros de sempre... e parece que é o que fazemos a vida inteira, sempre errando as mesmas coisas, sempre sofrendo pelas mesmas coisas... basta!!! deu pra ti!!! (essa é a minha mensagem pra mim...)
fim de semana em uberlândia com rose, um amor... muita chuva e céu nublado.
experiência diferente, mas muito interessante...
ita, uma magreza só, mas cheio de conteúdo...
estou muito feliz...
tem coisa pior do que ler agenda antiga? sempre me dá aquele sentimento de vergonha. tudo bem. a primeira agenda que tive, ganhei do meu pai, em janeiro de 1991 (agenda do estudante). lá há coisas do tipo: hoje começou a guerra do iraque... e muita besteira de criança. agora, a outr, de 1998... credo... me fez sentir que eu era muito mais estúpida aos 17 do que eu pensava...

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Hoje, show dos Cranberries!!!!
Adolescência pulsando pra fora da boca... iuhu...
é tão bom esse cheiro, esse gosto bom das coisas, de tempos outros, mas tudo isso vem também com um nublado. um nublado que lembra de um nublado metafórico, quando um ar, de tanto ar, quase não entra no pulmão e você fica sem fôlego.
um sentimento que não gasta. não que os sentimentos não gastem, parece que sim, mas esse, não. esse não. e quanto mais te esqueço, mais dentro você fica. e vai sedimentando, repousando, virando cal duro que se deposita, agrega e aglutina nas paredes seus resíduos.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

esse ar tá tão gostoso, que coloco a cabeça pra fora da janela, como um cachorro peludo, sentindo todos os cheiros de chuva e qualquer coisa molhada...

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Deitava na grama, às vezes, debaixo de uma árvore, e, sozinha, brincava de inventar palavras. Palavras em outras línguas, que não a sua. Nessa brincadeira que às vezes durava horas, brincadeira de repetir com gosto a palavra inventada, ia deslizando a língua no céu da boca, batendo contra os dentes, do jeito que os fonemas iam se acomodando. Algumas eram descartadas e iam pra uma lista do refugo.

Um dia, tão embebida estava com a inventação, que pensou ter inventado a palavra “vermelho”. “ver – me – lho”. Caprichava no erre e ia acertando com dificuldade o lh – que é um som difícil, como pôde constatar. E as vogais, mais abertas ou mais fechadas. E repetia e repetia. Repetia pra ver se, ouvindo sua voz falar, podia acreditar que aquela palavra existisse.
De tão cética, repetia mais e mais e já não sabia que língua falava, e, depois, nem mais quem era – aquela moça-menina.
And all this life happening everywhere. Not just here but everywhere. Actually there’s so much more life everywhere else.
They’re listening to music, they’re playing some music around the corners, around every corner but here. All the blossom and the blue water shining above their necks – but not here.
Gliding lights, and greens and perfumes.
Paris, Wien, Praha, Lisbon… stones and marbles and fountains and beautiful angel kids. And here, just a room, in here just an empty mind waiting for something to happen.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

E esse chão? É o mesmo ou também envelhece?

Não sei. Parece que a terra sempre teve essa mesma cor de terra... ou não, quando a gente brincava de fazer bolinhos de barro e a terra não era só seca, como agora, era também macia, uma mousse, uma gelatina...
Mas tudo bem, porque, quando vejo essas roupas, o colant verde, as ombreiras dentro de um tecido amarelo percebo que o passado também faz parte de mim e sou tudo isso aí. Sou a mesma menina que acha lindo um manequim de vitrine numa loja em Porto Alegre. E sou passado e futuro.

domingo, 26 de setembro de 2010

Pode parecer que seja prenúncio de chuva. Mas o cinza vem de um outro lado, sujeira, e não, nuvens.
Quero ver que janelas vão me segurar, o dia que chover. Que horários e deveres. Vou pra rua, vou pro pátio, de maiô, vou inteira, de branco... quero ver quem me segura.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Tarantino está para o cinema, assim como Andy Warhol está para as plásticas...

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Últimos filmes que assisti:
- As bruxas de Eastwick (ainda não terminei)
- O clube dos cinco
- Origem
- Mystic Pizza

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

I Believe - Tears for fears


I believe that when the hurting and the pain has gone
We will be strong, oh yes we will be strong
And I believe that if I’m crying while I write these words
Is it absurb ? or am I being real
I believe that if you knew just what these tears were for
They would just pour like every drop of rain
That’s why I believe it is too late for anyone to believe
I believe that if you thought for a moment, took your time
You would not resign yourself to your fate
And I believe that if it’s written in the stars, that’s fine
I can’t deny that I’m a virgo too
I believe that if your bristling while you hear this song
I could be wrong or have I hit a nerve ?
That’s why I believe it is too late for anyone to believe
I believe that maybe somewhere in the darkness
In the nighttime, in the storm
In the casino
Casino spanish eyes
I believe, no I can’t believe that every time you hear a new born scream
You just can’t see the shaping of a life
The shaping of a life
I wish I could find you ugly. I wish time could have been harder on you.
But when I saw you, when I see you – your hair waving against the wind made me believe you’re some kind of a galloping entity.
Meaningless words come across like air and everything seems so stupid.
Your eyes behind the scenes piercing all my senses,  getting to me all over.
And if you go, like I do, meeting these high hills, you’d face the cool wind like I do right now… If you just knew that I can’t go any further just because our song plays on the radio… If you just knew…


terça-feira, 14 de setembro de 2010

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

"tenho por princípios nunca fechar portas
mas como mantê-las abertas
o tempo todo
se em certos dias o vento quer
derrubar tudo?"
o sumiço não é descaso... mas ando tendo problemas com a minha conta, por isso também...
so sorry...
um beijo

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

doida pra chegar setembro...
doida pra chegar a primavera...

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Por que fazer o pouco se podemos fazer muito?

Por que ser pouco, ou menos, se podemos muito?


Algum dia, você, de dentro de um carro quente e confortável, esperando não sei quem ou não sei o quê, vê, do lado de fora da chuva, alguém caminhando sozinho, de noite, de frente, mas sem perceber, ou sem irritar menos o que está de fora, do que está de dentro.
Todos correm. Todos são. Menos ele. E Chopin naquela rádio que você quase nunca escuta, mas que, absorta em pensamentos, esqueceu de mudar, faz com que a música seja tocada pra ele, pra essa situação que se coloca diante dos seus olhos, de vidros embaçados, te colocando a par das sensações e coisas que você imagina.
Chuva e cansaço. Antes, poderia ser a fome a imaginar uma sopa com o que restaria em casa dentro da geladeira, ou a demora em si que incomodava, talvez um pouco de medo, descoforto por estar menstruada e ainda fora de casa. Não era tarde, mas o inverno e as nuvens negras fizeram hoje com que o dia mal existisse. “Nem parece o Rio de Janeiro...”
Agora, que sopa ou banho faria aquecer um coração diante de um passante que chora? O estranho que acende uma dor, uma promessa, um jeito de provocar uma pergunta: “estou sendo sincera comigo?”.
E o momento passa como tantos anônimos dentro da cidade grande. Mas a volta pra casa, hoje, foi mais silenciosa, coqueiros se revirando à beira mar para dizer algo. Ser e sentir. Custa tanto e não custa nada.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Poderia agourar, mandar jogar sal, cal, qualquer coisa que apodrecesse a terra maldita. Mas, passado o primeiro ímpeto, deixa-se estar; não adiantaria mandar acrescentar qualquer coisa que já saturasse o solo de coisa ruim.
De longe, se vêem a poeira e a estrutura seca de um lugar em que, de uma névoa tão espessa de sujeira suspensa, confunde-se o que seja terra, o que seja ar.
Tudo que lhe é próprio me faz me sentir estrangeira, alheia, me faz levantar a cabeça e quase prender a respiração, agüentar até o fim, como que debaixo d’água, mantendo o pé firme, me agarrando em algum galho seguro, para poder, enfim, e, agora em casa, com a ajuda desse meu entorno, me pertencer a mim mesma.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Poderia dizer que fosse Pilar Ternera, se debruçando sobre a fumaça de algum fogão. Quisera, talvez, dizer que fosse alguém mais etérea, mas não é o que me vem.
São carnes e gestos e jeitos de ser de cama, fogo e cozinha.
Apesar de pequenas, mãos que amassam pão e quenturas de fazer a massa crescer.
No fim do dia, talvez, na poltrona eleita, ficasse de costas pra janela aberta, sentindo e adivinhando os róseos morrendo aos alaranjados e o cheiro de uma panela sempre a esquentar, que fosse água.
Os baldes, cheios de água morna e ramos secos, adocicando os ares da despensa, a toalha bem branca, o sabão de bola com algum óleo de cheirar, a imagem ao fundo de uma lamparina brincava com sombras que crepitavam e de novo o seu ritual, mais um, para a plenitude de o acabar e o iniciar de um novo dia.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Para Caio Fernando Abreu.
Para um pôr-do-sol em Ipatinga ou em qualquer lugar.
Para aqueles que vivem um/o amor (mesmo que seja o amor dos outros).
Para um inverno pra se esquentar com alguém em Porto Alegre.
Para o seu olhar pra fora da janela do trem, correndo ao longo do Bodensee.
Para a minha estória de amor em família.

A linha e o linho - Gilbeto Gil

É a sua vida que eu quero bordar

na minha
Como se eu fosse o pano e você fosse
a linha
E a agulha do real nas mãos
da fantasia
Fosse bordando ponto a ponto
nosso dia-a-dia
E fosse aparecendo aos poucos
nosso amor
Os nossos sentimentos loucos,
nosso amor
O zig-zag do tormento, as cores
da alegria
A curva generosa
da compreensão
Formando a pétala da rosa
da paixão
A sua vida o meu caminho,
nosso amor
Você a linha e eu o linho,
nosso amor
Nossa colcha de cama,
nossa toalha de mesa
Reproduzidos no bordado
A casa, a estrada, a correnteza
O sol, a ave,
a árvore,
o ninho da beleza

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Você me tirou a inocência. Foi isso o de pior que você tirou. Minha inocência e vontade de me dar, toda, por inteiro, sem olhar pra trás, sem querer nada em troca, só um beijo inconsciente no ar enquanto se está dormindo.
(Os verbos não tem sexo, não tem gênero.)
Te imagino sentada numa ladeira de grama seca, joelhos conta o peito. É tão nítida que parece apenas a fotografia de um momento carinhoso que me permiti registrar. Você fumando seu cigarro. A tarde cai. É um pouco frio.
Hoje tenho medo. Não, não é medo; é não ser, é não se importar. Não é medo de me envolver, passar a agulha pelo buraco errado. É de nunca mais me envovler. E é um medo de mentira, porque eu não me importo, estou alheia. E aí, o único medo de verdade que surge é o medo de nunca mais ter medo.
Meu coração. Sabe o que parece? Pétalas de uma flor baratinha que alguém achou bonito arrancar, mas que logo a brincadeira ali do lado chamou mais a atenção e saiu correndo, pisou, de sandalinha, em cima, no chão.
minha verdade nua e crua
piscando, de cílios longos na minha frente
minha vontade
seca como um deserto sem miragem
e a noite desce através dessa música

sexta-feira, 16 de julho de 2010

fazendo uns testes aqui... vamos ver...
talvez mais coisa venha por aí...
beijos
que definhem!
que se matem pelo tédio e desrespeito...
nem todos têm o que merecem, mas alguns merecem o que têm...
arghh...

quinta-feira, 15 de julho de 2010

posso ser apaixonada pelo Andy Garcia?

quarta-feira, 7 de julho de 2010

7 do 7

Ela, de botinas sobre as pedras deslizantes, com um equilíbrio e segurança próprios de sua classe. Nessas épocas em que se esquenta apenas sob o sol, e a sombra úmida incomoda, especialmente pela manhã, talvez fosse mais fácil recordar a lembrança dela.
Por essas ruas, talvez passasse e me cumprimentasse cordialmente, como que vindo da feira ou da loja de aviamentos.
E eu a imaginar o mesmo branco que ela carregava na face pelos braços. Com certeza, suaves, escondidos do sol, como as brincadeiras por entre os lençóis a secar no varal.
As mãos viravam uma imagem que eu decorava antes de dormir. Compridas, de dedos que, se vistos de mais perto, como eu gostaria, mostrariam delicadas veias e artérias. Acostumei-me, no mosaico das telhas de barro de Monte Carmelo, a procurar aquelas mãos, e seu conforto que eu imaginava, pra acalmar as noites de orelha fria e pensamentos que me tomavam o travesseiro de paina.
Algum dia fosse suficiente saber apenas que ela existira de verdade, que não era apenas fruto da imaginação? Que acalanto pensar nisso agora, fitando as folhas do mamoeiro que descansa sobre essa terra vermelha? Esse calor todo que confunde a vista e faz esquecer a idade e em que ano estamos. Sem notícia nenhuma daquela imagem, só as que invento, sempre, antes de dormir, e agora, com os braços nus e vestido ramado de algodão, atravessando a cerca e vindo contra o sol em minha direção.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

26

Sua cicatriz que me faz companhia, onde passo a mão, percebo uma pequena depressão, sei da estória, mas, agora, só me bastava ela em si. Só me bastava o que ela de vivo lembra em você.
Seus braços com veias e textura e cheiro e temperatura. Os dois.
Ombros por uma blusa que mostra mais um do que o outro. Ombros de outra época, ombros como prolongação de braços e vice versa. Ombros pra deitar a cabeça e afastar os cabelos, os seus.
Olhos e cílios que se mostram e piscam como numa fotografia. Olhos de água. E sobrancelhas, crescem e diminuem e gesticulam junto com as coisas que quer demonstrar.
Bochechas.
Pés. Pés que se enterram e enfiam no chão e pairam e te locomovem do seu jeito, do jeito que te reconheço à distância.
Cabelos que cheiram e mudam de textura e penteado e te dão uma preocupação que, mesmo que desnecessária, é o reflexo de um interagir-se consigo.
Pescoço e cheiro que sai e orelhas.
Joelhos e pernas prontos e certos.
Mãos, mãos, mãos. E unhas. Mãos. Resumo de tanto que poderiam existir sozinhas. No escuro, só elas. Longas o bastante. Retas. Mãos.
Tudo isso seria muito, muito. Mas, pelo menos a cicatriz. Só a cicatriz, eterna cicatriz.
Dentro do trem e agora, nada mais. Sua cicatriz.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

O cheiro que vem desse mar, apesar de tímido, é o mesmo cheiro de mar. E te transporta pra Aracaju ou pro Rio de Janeiro, onde você, no meio das ondas, fez uma promessa. Ou um trato com Deus.
E aí, no meio de todo mundo, ou sem ninguém, no meio dessas árvores, você está só. Do mesmo jeito que conversa com travesseiros antes de dormir. Você e as coisas que você pensa/sente - e que, às vezes, nem parecem suas.
Aqui, no verde e azul, que poderia ser o verde e azul de Tupaciguara, o que me vem é a mesma coisa. O mesmo caramelo diante dos olhos que vai endurecendo, virando vidro.
Said the young New Yorker author: "the more I remember, the more distant I feel".
It's always about loss, isn't it? It's all about loss. Here, under a red or blue sky. In English, in Portuguese, in someone's mind behind the train windows...
Fuck! You go everywhere. You cross the seas, you try to find someone to translate your feelings, you try to find someone that you recognize but you just find yourself in anyone's words.
You find yourself in a middle of a loneliness talk.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

quarta-feira, 2 de junho de 2010

que os meus sonhos se realizem... só isso...
só isso...

quinta-feira, 27 de maio de 2010

frisch verliebt

Do you remember chalk hearts melting on a playground wall
Do you remember dawn escapes from moonwashed college halls
Do you remember the cherry blossom in the market square
Do you remember I thought it was confetti in our hair
By the way didn´t I break your heart
Please excuse me I never meant to break your heart
So sorry I never meant to break your heart
But you broke mine
Kayleigh, is it too late to say I'm sorry?
And Kayleigh, could we get it together again
I just can't go on pretending that it came to a natural end
Kayleigh, oh I never thought I'd miss you
And Kayleigh, I thought that we'd always be friends
We said our love would last forever
So how did it come to this bitter end
Oh oh yeah
Do you remember, barefoot on the lawn with shooting stars
Do you remember the loving on the floor in Belsize Park
Do you remember dancing in stilettoes in the snow
Do you remember, you never understood I had to go
By the way, didn´t I break your heart
Please excuse me, I never meant to break your heart
So sorry, I never meant to break your heart
But you broke mine
Kayleigh, I just wanna say I'm sorry
But Kayleigh, I'm too scared to pick up the phone
To hear you've found another lover to patch up our broken home
Kayleigh, I'm still trying to write that love song
Kayleigh, it's more important to me, now you're gone
Maybe it'll prove that we were right or ever prove that I was wrong

she´s like the wind

She walks with a snobbish nose held high. She walks and passes me by as if to pretend she doesn´t see me, as if to pretend that I don´t see that she sees me.
She passes by like a rich snobbish girl.

Quando você foi embora, no auge dos meus dezessete anos. Você foi embora. Naquela época, tudo era pra sempre. Mudar de escola, mudar de casa e de vizinhos.
Você foi, sem recado no muro, sem carta, sem borrachinha sua de cabelo que eu roubei aquele dia do seu estojo.
Você foi. Eu, na fresta de sol do recreio. Fumava. O chão era frio na minha calça azul de moleton.
Meu pescoço. Meus braços brancos sem blusa.
Voltei sozinho, passava as mãos nos muros brancos de calcário. Dedos secos. Garganta seca. Fumava sozinho na volta da escola. Sentava na calçada. Era inverno, era nublado.
Andava as ruas do bairro. Fui no monte. Vi a cidade de cima, de cima da bicicleta. Do viaduto. Tinha onze anos. Tinha treze. Você. Milka de chocolate branco. Tinha dezessete. Tinha trinta anos.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

quarta-feira, 19 de maio de 2010

terça-feira, 18 de maio de 2010


C´est ne pas juste!
I´m shivering all over.
If you don´t, just don´t.
But if you do, just do, just do it!!!
My bones hurt. My bones hurt me like a love song. My hands are as cold as the vampire´s hands.
I´m as tired as the huge buffalo. Trying to catch its breath somewhere. Somewhere but here.
Sometimes everything I wanted is to breathe, just breathe.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Call  me - Chris Montez

When you're feeling sad and lonely

there's a service I can render.
Tell the one who loves you only,
I can be so warm and tender.
Call me, don't be afraid you can call me,
maybe it's late but just call me.
Tell me and I'll be around.
When its seems your friends desert you,
there's somebody thinking of you.
I'm the one who'll never hurt you,
maybe it's because I love you.
Call me, don't be afraid you can call me,
maybe it's late but just call me.
Tell me and I'll be around.
Now don't forget me, `cause if you let me,
I will always stay by you.
You got to trust me, that's how it must be,
there's so much I can do.
If you call, I'll be right with you.
You and I should be together.
Take this love I long to give you.
I'll die at your side forever.
Call me, don't be afraid you can call me,
maybe it's late but just call me.
Tell me and I'll be around.
love is a losing game...

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Queria pedir desculpas e queria dar desculpas. Deito num colo e não encontro nada. É frio. É frio na asa norte e em todo lugar. O vidro embaça e por pouco não coloco lenha na fogueira. Depois de uma rótula, ou rotatória, você vira à direita ou imagina que vira e imagina o que encontra e quer mas não quer encontrar.
A noite é fria e minha garganta congelou há um tempo, não consigo derreter a pedra. Nem no sol do recreio, nem naquele que existia no intervalo do almoço.
Uma mão que sua na medida certa e me passeia as costas sem camisa, mas sem frio. Eu, de bruços, eu, querendo estar de bruços, abraçando a cama inteira. Travesseiros e roupa de cama limpa como desculpas.
Falo “te amo” para o travesseiro, falo “te amo” para o Ricardinho, falo “te amo” pra mim mesma, segurando minha própria mão entrelaçada. O aquário secou, de cal e calcário e águas verdes que evaporaram. Os peixes, não sei quantos morreram. Tudo acre e salgado. Molho o chão pra ver as coisas respirarem. A flor é amarela, descartável, dura pouco e eu insisto. Cores que viram um borrão no meu fundo de olho.
Orelha dos outros, queixo dos outros, unhas, cabelos, onde enfio os dedos e sei que não estou lá. Tudo é ar que escapa de um furinho pequeno do balão, pele fina que sobra como um peito murcho. Tudo se esvazia antes mesmo de eu chegar, antes de eu tentar qualquer coisa. Meu corpo vira uma fita sem direção, num balé tresloucado que, de bonito, só tem a textura do meu corpo em si. E nada basta.
Água. Água. Quero água. Traga-me água.
Há lugares que só envelhecem. E não há grande outdoor ou letreiro colorido que desfaça a poeira turva que repousa sobre as praças, pessoas, velhos de pernas cruzadas, cachorros se coçando na rodoviária.
Lugares esquecidos, que só servem pra se lembrar. Um cheiro de fumaça de um fogão de lenha encostado há anos. Ruas asfaltadas com terra e poeira por cima insistindo. Alguém teimando em fazer a secagem do café, da mamona...
Tudo é amarelo e embaçado.
Lugares que não se perderam no tempo, mas no espaço.

terça-feira, 4 de maio de 2010

notícias

O Rio de Janeiro continua lindo. Valéria e Laura também.
O Johnny Depp brigou com o Teddy. Várias vezes. Em uma, furou o pescoço dele, em outra, furou a mão do Ita.
O João nasceu, meu priminho, filho do Tio Rander.
Os peixes desistiram de Brasília e foram embora pra Uberlândia.
O Ricardinho anda muito solitário, quer usar relógio de pulso e pensa que é um monstro.
O Igel ta com depressão. Eu tenho que passar creme hidratante nele todo dia.
Minha cabeça anda coçando. Não sei se é o tempo ficando diferente, ou se é a famosa caspa.
To usando um perfume novo. Comprei no aeroporto em Belo Horizonte. É bom, é fresco e o preço não tava ruim.
Em São Paulo, olhando pra cima. Na festa, um retrô de era industrial longínqua. Nas ruas, os arranha-céus. Metrô. Pessoas, pessoas. São Paulo é como o mundo todo...
Belo Horizonte com Nara e Carlinha. Boa recepção pra deitar os pés descalços no chão de taco bem limpo. Família Puntel Motta muito hospitaleira. Comidinhas, comidinhas, mercadão pra saciar todas as sedes, show pra pular alto. Mais um sonho da adolescência.
Em Uberlândia choveu. Pagode é triste. Festa é triste. Vontade de deitar o dia inteiro num carpete, jogar a bolinha pra Sofia pegar, até cansar e entediar a coitada. Em Uberlândia, tudo resumiu e se resumiu em si. Ninguém mandou lembranças.
Fui a médicos, farmácia, estou fazendo terapia. Estou fazendo ioga. Estou adorando ioga. Coloquei incensos, joguei sal grosso, lavei a casa. Comprei sabonete pro rosto. Tirei sangue. Descobri que tenho condromalácia patelar. Descobri e desdescobri muitas coisas. Estou convivendo com Caio, estou amando. Estou mergulhada num universo de Satie, Menino Deus, Londres, São Paulo, cigarros, Olivetti, Virginia Woolf, Clarice Lispector, ovos apunhalados, águas e mais águas, esperança que já morreu com tantos e esperança tentando renascer nesse cimento todo.
Hoje, comi panqueca e purê, ao lado de um casal de velhos.
Amanhã, é feriado, graças a Deus, não vou estar por aqui.
Mas queria desejar feliz Páscoa. Não sei pra quê. Não sei pra quem.
Não to fumando, não to bebendo. Mas sei onde está o maço de Marlboro, que mantenho escondido.
Escuto rádio e poucos CDs. Uns que restaram. Uns que ameaçam menos.
Vi Avatar. Chovia. Gostei. Mas gostei muito mais de Onde vivem os monstros.
Minha prima veio me visitar e também a Mariana, que continua a mesma. Com a Rose, me senti tendo uma noite feliz e inusitada, pensando valer a pena Brasília, auf jedem Fall.
Estou lendo. Estou passando frio à noite. Dormi no chão. Dormi em várias camas. Tentei cantar.
Comprei calcinha. Viajei a trabalho. Vou viajar de novo. Tive visões. Tive medo. Tive sonhos.
Comprei alfajor na Paulista, onde já tinha comprado antes.
Comprei pijama. Dormi de roupa.
Morten é mais lindo do que se possa imaginar. Axel deixa uma lembrança no ar. Dolorores amou as árvores, como já se disse antes.
Filmes e momentos e romances que invento e que invento que lembro. Vontades que pesam sobre minha cabeça, pensamentos repetitivos. A televisão chiando. A louça acumulando. O seco que entra pelos meus olhos, narinas, cabelos. Meu momento de não dormir e sonhar, sonhar, sonhar...
Há algum tempo, poderia escutar Milton Nascimento em cima de uma bicicleta e curtir  uma saudade em tempo real, me ver como de por uma janela de um trem. Mas agora, agora não há boemia pra explorar. Não há um jeito de isso ser bonito. Não dá nem pra ser poético. Poético não adianta, não resolve, não enche barriga, ou não esvazia. E tem tanta coisa pra sair, como pequenas mariposas, aos montes, às centenas, milhares, de dentro de uma caverna escura.
Notícias do mundo de lá e de cá. Luas que se enchem e se esvaziam nesses meses se acumulando. Aqui dentro, será que ainda mora alguém? E aí, do outro lado do abismo? É você, ou é meu eco gritando?

quinta-feira, 29 de abril de 2010

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Atendendo a pedidos, republiquei (hehe...) a postagem abaixo. Ela foi escrita para um concurso da Revista Piauí, mas não mandei porque não deu tempo. Eles davam uma frase e você tinha que escrever um texto com ela, com um número máximo e mínimo de palavras. No caso, a frase foi: Genalva, vem me buscar que estou odiando.
Espero que gostem.
Beijos.
Genalva

Maíra Selva Borges

Genalva era o nome de uma respeitosa senhora de quarenta e poucos anos, apesar de aparentar um pouco mais, não tanto pela aparência, mas pela casca sisuda que suportava. Ela, há dezessete anos, prestava seus serviços de secretária competente ao Dr. Praxedes Filho. Numa noite clara de primavera, o ar quente e pesado que se depositava nas calçadas fazia com que a gente quisesse ficar sobre os telhados se refrescando, o que era mais uma desculpa para poder se reunir e ficar falando de sacanagem, ouviram-se gritos roucos, intensos e ao mesmo tempo sufocados pelos dentes a ranger de um ímpeto de loucura. Era Dona Genalva a rosnar e espernear em plena Praça da Matriz, arrancando suas roupas, mostrando o sutiã de bojos pontiagudos, comendo terra, com os cabelos soltos dos grampos. Tudo aquilo reuniu a cidade inteira, numa mistura de curiosidade, pena e até medo. Depois daquele dia, nunca mais se viu Dona Genalva. Alguns disseram que foi o próprio Dr. Praxedes Filho que providenciou sua remoção, porque a pobre sofria de distúrbios mentais. Outros, mais maliciosos, interpretaram que a secretária e seu chefe mantinham relações e, que, por algum motivo veio a se abalar, causando aquela tragédia.

Em homenagem a essa figura heróica da cidade, quando saíamos vestidos de mulher nos carnavais, eu fazia o meu número Genalva em praça pública. E foi assim por oito anos.

Durante as infindáveis noites carnavalescas, enquanto eu e os outros nos dedicávamos a tantas nádegas, o Bola se entretinha com grossos copos em algum canto. O Bola era daqueles caras escrachados, contadores de piada, sempre com o cofre a aparecer pelas bermudas, pêlos por todos os lados, sempre bebendo ou comendo alguma coisa. Talvez diante de todos esses atributos, o Bola nunca tinha sido visto com ninguém, garota nenhuma, nem de escola, nem de faculdade, nem de puteiro. Aquilo parecia preocupar menos aos outros do que a mim. E eis que, quando eu estava há cinco meses em Bruxelas, vivendo de bolsa, me chegou a notícia de que o Bola ia se casar. Ela, a Marilinha, mulher muito magrinha, muito baixinha, muito branquinha, de voz estridente e sotaque muito fresco de quem já morou em São Paulo, era considerada a figura mais chata da faculdade, com idéias reacionárias e sociabilidade frágil.

Quando voltei, encontrei o Bola, que agora tinha de ser chamado de José Carlos, completamente diferente. O cofre era contido com calças sungadas por cintos sociais, a barba, pela obrigação de ser feita todos os dias, apresentava-se empolada e vermelha, e as roupas dos momentos de lazer se limitavam a camisas pólo listradas. De fato, era outra pessoa: não bebia mais, não podia jogar bola, não encontrava mais ninguém; um completo estranho.

Assim, o Bola desapareceu completamente por mais de sete anos.

Um dia, numa dessas salas de embarque de aeroporto, com o estresse todo de nunca poder perder tempo, liguei o lap top para verificar minha caixa de e-mails. Estava lá um do Bola. Achei estranho, mas tinha ficado feliz com aquela aparição de apenas 2 K. Dizia apenas a seguinte frase: Genalva, vem me buscar que eu estou odiando. Respondi com um texto enorme (meu velho ranço jornalístico), caprichado, contando o que eu tinha feito durante esses anos, relembrando os velhos tempos, mas senti, de alguma maneira, que aquilo não era bem uma piada, mas um apelo. Não pedi endereço, telefone, nada, apenas confiei no poder do correio eletrônico.

Treze dias depois fiquei sabendo que o Bola tinha morrido, se suicidado. Não suportou descobrir que a Marilinha vinha o traindo há dois anos e sete meses com o Edmilson. Justo o Edmilson, que a gente encontrava ainda pelos supermercados comprando cerveja e mastigando amendoim, de Havaianas a refrescar uma eterna unha encravada, camiseta cavada e sovacos peludos.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Menino Deus - Caetano Veloso

Menino Deus, um corpo azul-dourado
Um porto alegre é bem mais que um seguro
Na rota das nossas viagens no escuro
Menino Deus, quando tua luz se acenda
A minha voz comporá tua lenda
E por um momento haverá mais futuro do que jamais houve
Mas ouve a nossa harmonia, a eletricidade ligada no dia
Em que brilharias por sobre a cidade
Menino Deus, quando a flor do teu sexo
Abrir as pétalas para o universo
E então, por um lapso, se encontrar no anexo
Ligando os breus, dando sentido aos mundos
E aos corações sentimentos profundos de terna alegria no dia
Do menino Deus
Do menino Deus
Do menino Deus
No dia do menino Deus
Eu sou essa pessoa que é sua, nenhuma outra.
Nada é fácil nessas janelas que se batem com o vento. Uma vontade de estrelas para mim, naquela monotonia de Adriana Calcanhoto, pé suando adolescente no carpete. Coloco um texto, um trecho da Marina Lima. Ta parecendo que tem gente que achou que era meu. Mas tudo casa assim mesmo. Se apoderam das coisas, nos apoderamos quando aquilo tem tudo a ver e essa era a intenção de falar aquelas palavras por outra boca.
Guardar. Guardar.
Caio morreu. Sozinho e magro no Menino Deus. Vi os azuis daquilo tudo. Vi uma casa de tábuas corridas no chão. Vi suas roseiras. A Praça de Chiga ali pertinho. No fim, sobra uma Porto Alegre, poética e cinzenta. Ou verde por debaixo da névoa no topo dos prédios. Querendo ser, querendo fazer. Uma ovelha negra que se acabou mais pra filho pródigo e sempre é tempo de perdão e semear. Sempre é tempo de calma e acalanto.
Paula Dip, pra ser bem sincera, me decepcionou. O seu Deep ficou só pros seus amores fáceis de pênis e vontade de ser moderninha, mas que acaba indo atrás do marido que, militar, ou gerente do Banco do Brasil, fica de lá pra cá. E seu amigo morrendo aos ossos e peles num banheiro rosa-bebê. Não é justo. Comigo, Caio seria meu próprio amor. E é nisso que vejo o quanto pessoas que não estão só casadas ou cuidando das próprias crias estão cuidando dos outros, sendo dos outros, despendendo tempo aos amigos e pertencendo a todos.
Caio repousa como uma pluma, tão leve quanto seu corpo esguio. Sua voz me é tão familiar que o vejo explodir ao alto em uma gargalhada a esmerilhar um gogó no meio do pescoço.
Raio de sol na pedra rosada.

domingo, 18 de abril de 2010

sábado, 17 de abril de 2010

guardar, guardar, guardar...
guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la
num cofre nao se guarda nada
num cofre
perde-se a coisa à vista
guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por admirá-la
isto é
iluminá-la, ou ser por ela iluminado
estar acordado por ela
estar por ela
ou ser por ela

sexta-feira, 16 de abril de 2010

terça-feira, 30 de março de 2010

domingo, 28 de março de 2010

e.e. cummings

somewhere i have never travelled,gladly beyond
any experience,your eyes have their silence:
in your most frail gesture are things which enclose me,
or which i cannot touch because they are too near
your slightest look easily will unclose me
though i have closed myself as fingers,
you open always petal by petal myself as Spring opens
(touching skilfully,mysteriously)her first rose
or if your wish be to close me, i and
my life will shut very beautifully ,suddenly,
as when the heart of this flower imagines
the snow carefully everywhere descending;
nothing which we are to perceive in this world equals
the power of your intense fragility:whose texture
compels me with the color of its countries,
rendering death and forever with each breathing
(i do not know what it is about you that closes
and opens;only something in me understands
the voice of your eyes is deeper than all roses)
nobody,not even the rain,has such small hands

quinta-feira, 25 de março de 2010

Cry wolf. Uivando como no topo de uma pedra, em paz com os monstros de dentro e de fora.
Numa mesma cúpula, abóboda (acho que não chega a ser), eu me refletia de emoções como há dias atrás.
Meu medo me fez suar as mãos por dias, perder o sono, ter medo... Esperei até o último minuto, esperando que um milagre acontecesse. Mas o milagre estava lá.
Da dor, do medo, do abismo vertiginoso nasceu uma coisa límpida, mais clara, por ser a coisa mesmo clara.
As imagens, atrás, de natureza, mar, baleias, azul, verde, tudo traduzia uma energia de verdade, uma coisa suave. E aquilo, pesado antes, se deixou amolecer e virar só uma quase paz em mim.
Doía, é verdade, mas menos do que eu previa.
Inevitável olhar na platéia, procurar um rosto conhecido e inevitável torcer, também, para não encontrar.
Sabia que, se você estivesse lá, ia perceber, como eu e como pouquíssimas pessoas, que ele errou a letra de The blood that moves the body. E também, que seguraria minha mão forte em Hunting high and low, quando eu chorei.
E aquelas sensações de sozinha na multidão que tanto tenho experimentado. Mas, dessa vez, não bastava qualquer mão forte querendo me proteger na escada – clássico. Porque ela também não estava lá. Perfumes que passavam no ar, coros, pessoas chegando atrasadas. Ninguém estava.
Olhar pro teto era como imaginar tudo aquilo que já estava ali bem em frente, em cima do palco.
Você teria visto aquela calça branca linda que ele usou? E sua voz, quando ele falava, teria ouvido, do mesmo jeito que eu ouvi?
Mas o que acalmou também não foi suficiente. Parece que não foi intenso como poderia ser (claro). E não havia ninguém ali pra pular ou gritar até o fim da voz... Só eu. Sozinha na multidão.

“Do you know what it means to love you?”
Als das Kind Kind war,

wußte es nicht, daß es Kind war,
alles war ihm beseelt,
und alle Seelen waren eins.

Als das Kind Kind war,
fielen ihm die Beeren wie nur Beeren in die Hand
und jetzt immer noch,
machten ihm die frischen Walnüsse eine rauhe Zunge
und jetzt immer noch,
hatte es auf jedem Berg
die Sehnsucht nach dem immer höheren Berg,
und in jeden Stadt
die Sehnsucht nach der noch größeren Stadt,
und das ist immer noch so

quarta-feira, 24 de março de 2010

Tinha um banco, daqueles altos, onde, na verdade, ela nem se sentava, entre uma pausa e outra da música, ela tragava e jogava a fumaça contra luz pouca, de perfil. Assim, meio Diane Keaton, ela parecia sozinha, sozinha com sua voz e sua música.
E segurava o microfone no pedestal, levemente, quase sem encostar, com o cigarro na mão.
“It could be sweet...”.

terça-feira, 23 de março de 2010

de caio f., mas podia ser meu...

Frágil – você tem tanta vontade de chorar, tanta vontade de ir embora. Para que o protejam, para que sintam falta. Tanta vontade de viajar para bem longe, romper todos os laços, sem deixar endereço. Um dia mandará um cartão-postal de algum lugar improvável. Bali, Madagascar, Sumatra. Escreverá: penso em você. Deve ser bonito, mesmo melancólico, alguém que se foi pensar em você num lugar improvável como esse. Você se comove com o que não acontece, você sente frio e medo. Parado atrás da vidraça, olhando a chuva que, aos poucos começa a passar.

quinta-feira, 18 de março de 2010

la vie en gris

quarta-feira, 17 de março de 2010

Levo uma vida de uma mulher nova iorquina bem sucedida. Com a diferença que moro em Brasília e não tenho grana...

segunda-feira, 8 de março de 2010

patience

Tem coisa que te toca no fundo, de verdade. Quantas e quantas vezes você ouve um “I need you”, um “don´t you cry”, um, sei lá, “I love you” numa canção? Quantas vezes? Mas, às vezes, essas palavras soam como se fosse a primeira vez no seu ouvido, uma verdade dita de verdade. Um raio de poeira no ar que parece querer te mandar uma mensagem.
Quando ele, recostado, olhando de através, pede paciência, e você acha que é com você, e você lembra da primeira vez em que viu ele ao vivo, abrindo um show dos Rolling Stones na TV, calça colada e rebolando, e “I need you”, e “I need you”, e você chora, sem agüentar. “Just a little patience...” Será que é isso? E tudo parece uma prece. E tudo passa com um flash nítido por você. Como quando ele, ao piano, já provocando uma deixa, toca november rain, e, de repente, você tem onze anos, cheia de roupas de frio em Porto Alegre, de puberdade saindo pra fora por descuido. Você sente como era ter aqueles joelhos, a volta ensolarada das aulas de Inglês. Seu coração palpitando por um menino de camiseta alaranjada. Uma música te faz sentir tudo isso.
11 anos. Ainda tão sem nada no currículo, que bom... que saudade de não ter nada.

late

she loved the trees. she said she´d loved the trees.
how. era a primeira música. eu já sabia. naquele momento, a letra sempre vem significar as coisas que a gente quer ver. " you said you would leave me alone..."
para o meu pedido uppon the stars teve também daffodils lament. e sempre pretty, que a danada sempre põe nos shows. quem será essa "pretty"? e waltzing back. música de me fazer chorar na adolescência. ode to my family lá embaixo, perto do público. linger - isqueiros ao alto. empty com bongôs. i can´t be with you - música de gritar no carro. animal instinct...
pra embalar o meu sonho, uma cordinha que puxo destrambelhada nessa montanha de sonhos, poderia ser que tudo isso se desse em qualquer lugar, que o que importava era aquilo ali, quatro pessoas (ou duendes.. hehe) no palco. mas, não. foi lá, em bh, bh antiga, cheia de curvas e ladeiras, mais emoção, né?
she said she´d loved the trees...

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Último dia em Uberlândia. Cold case com Pearl Jam na televisão.
Ai...

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Linger

If you, if you could return

Don't let it burn, don't let it fade
I'm sure I'm not being rude
But it's just your attitude
It's tearing me apart
It's ruining everyday
And I swore I swore I would be true
And honey so did you
So why were you holding her hand
Is that the way we stand
Were you lying all the time
Was it just a game to you
But I'm in so deep
You know I'm such a fool for you
You got me wrapped around your finger
Do you have to let it linger
Do you have to, do you have to
do you have to let it linger
Oh, I thought the world of you
I thought nothing could go wrong
But I was wrong
I was wrong
If you, if you could get by
Trying not to lie
Things wouldn't be so confused
And I wouldn't feel so used
But you always really knew
I just wanna be with you
And I'm in so deep
You know I'm such a fool for you
You got me wrapped around your finger
Do you have to let it linger
Do you have to. do you have to
do you have to let it linger
And I'm in so deep
You know I'm such a fool for you
You got me wrapped around your finger
Do you have to let it linger
Do you have to, do you have to
do you have to let it linger
You know I'm such a fool for you
You got me wrapped around your finger
Do you have to let it linger
Do you have to, do you have to
do you have to let it linger

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

atendendo a pedidos...

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Só tinha a gente naquela casa lá, de madeira, lá em cima. Nós, o mofo e o cigarro. Vestia uma camisa limpa que parecia suja e iniciávamos nossos rituais de fogo e acolhida. Líamos perto do fogo. De vez em quando, alguém cruzava a perna quase desconcentrando o outro e as palavras de uma frase ainda sendo lida pairavam pela cabeça, como uma dobrinha transparente.
O chá. Fazíamos o chá. Aliás, eu não.
E aquilo era todo dia. E parecia que só existiam noites, de tão escuros os dias. E a chuva lá de fora e, de vez em quando, o Cachorro Amarelo magro que vinha nos visitar.
Upon the hills. No rainbow. Chuva. Cascalho molhado. Casca de árvore apodrecendo. Liquens e relíquias.
Barro se refazendo sobre a chinela havaiana. E na verdade, havia felicidade ali, densa como o ar da colina, pesada. Não era fácil, leve como casca de sorvete. Era sisuda, era de por detrás da cortina, mas era uma de verdade. E não sei quanto tempo durou, porque fiquei sabendo pouco o que era tempo, passando aquelas páginas úmidas.
Minha felicidade de veias e braços com poucos pêlos e aconchego dos amores de Caio Fernando Abreu...

um coração cansado de sofrer e de amar até o fim

Vou seguir

O chamado
E onde vai dar, e onde vai dar
Não sei
Arriscar ser
Derrotado
Por mentiras que vão, mentiras que vêm
Punir
Um coração cansado de sofrer
E de amar até o fim...
Acho que vou desistir
Céu abriga
O recado
Pra eu me guardar, mudanças estão por vir
Esperar ser
Proclamado
O grande final, o grande final feliz
Que tal aquele brinde que faltou?
Será que teria sido assim...
Acho que vou resistir
Isso aqui é meu peito despedaçado, como bem se vê do lado de fora.
Em Nova Iorque, olhei uma janela e havia pessoas se abraçando numa sala quente. Tiravam as toucas e as roupas pesadas pra se aconchegar.
Lembrei de uma música, mais tropical, que não cabia naquele momento, mas que me lembrou outros tempos. Um friozinho de mentira só pra se ter a desculpa de esquentar os joelhos em alguém.
Eu de espreita, o carvalho. Um pouco da neve derretida, esquilos escondidos.
Uma sensação de Home Alone e meus pés sem aquecimento nas snow boots. I´m Kevin.