sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Uma sala, pessoas conversando de cantinho e sonhos que um dia foram sonhos viram dados, contas, débitos...
“O apartamento de Taguatinga vale 300 mil...”
“E o que os meus pais têm a ver com isso?”
“Você ficou com tudo...”
“E as crianças?”
Uma viagem à praia e ele te abraçava no sol quente. Hoje, as fotos foram rasgadas. A barba de que você gostava, agora grisalha. Não lembrava mais que ele tinha um leve estrabismo no olho direito, hoje, aquilo salta aos olhos de qualquer passante. Uma camisa branca (nova? quem será que comprou? ele detestava comprar camisas...). O calor e o suor discreto. Hoje é quarta-feira, preciso fazer compras – e a voz dele ecoando... Me desligo e penso, também, o quanto envelheci, o quanto o meu medo se petrificou e virou garantia de uma postura de alguém que foi feita pra ficar sozinha. Dedicar-se aos filhos, sempre uma boa desculpa. Naquele banco duro de fórum sabia que não queria nunca mais sentar.
A saia da moça que chama os nomes era bonita. Mas não notaria isso hoje, talvez outro dia, numa fila de supermercado, não ali. E os fones de ouvido pendurados, ainda tinham Enya ao fundo, que tinha esquecido de desligar.
Hoje é quarta-feira, e não posso me esquecer de buscar a Fafi no balé.
“Se vendermos o apartamento de Taguatinga...”
Hoje é quarta-feira, tinha uma reunião no trabalho.
“E precisamos ver isso logo, porque tenho que pegar o vôo de volta...”
Uma quarta-feira, só mais uma quarta-feira e um aperto de mãos... talvez o último...

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

pode parecer óbvio, mas, neste último fim de semana, descobri/pensei que não quero cometer os erros de sempre... e parece que é o que fazemos a vida inteira, sempre errando as mesmas coisas, sempre sofrendo pelas mesmas coisas... basta!!! deu pra ti!!! (essa é a minha mensagem pra mim...)
fim de semana em uberlândia com rose, um amor... muita chuva e céu nublado.
experiência diferente, mas muito interessante...
ita, uma magreza só, mas cheio de conteúdo...
estou muito feliz...
tem coisa pior do que ler agenda antiga? sempre me dá aquele sentimento de vergonha. tudo bem. a primeira agenda que tive, ganhei do meu pai, em janeiro de 1991 (agenda do estudante). lá há coisas do tipo: hoje começou a guerra do iraque... e muita besteira de criança. agora, a outr, de 1998... credo... me fez sentir que eu era muito mais estúpida aos 17 do que eu pensava...

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Hoje, show dos Cranberries!!!!
Adolescência pulsando pra fora da boca... iuhu...
é tão bom esse cheiro, esse gosto bom das coisas, de tempos outros, mas tudo isso vem também com um nublado. um nublado que lembra de um nublado metafórico, quando um ar, de tanto ar, quase não entra no pulmão e você fica sem fôlego.
um sentimento que não gasta. não que os sentimentos não gastem, parece que sim, mas esse, não. esse não. e quanto mais te esqueço, mais dentro você fica. e vai sedimentando, repousando, virando cal duro que se deposita, agrega e aglutina nas paredes seus resíduos.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

esse ar tá tão gostoso, que coloco a cabeça pra fora da janela, como um cachorro peludo, sentindo todos os cheiros de chuva e qualquer coisa molhada...

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Deitava na grama, às vezes, debaixo de uma árvore, e, sozinha, brincava de inventar palavras. Palavras em outras línguas, que não a sua. Nessa brincadeira que às vezes durava horas, brincadeira de repetir com gosto a palavra inventada, ia deslizando a língua no céu da boca, batendo contra os dentes, do jeito que os fonemas iam se acomodando. Algumas eram descartadas e iam pra uma lista do refugo.

Um dia, tão embebida estava com a inventação, que pensou ter inventado a palavra “vermelho”. “ver – me – lho”. Caprichava no erre e ia acertando com dificuldade o lh – que é um som difícil, como pôde constatar. E as vogais, mais abertas ou mais fechadas. E repetia e repetia. Repetia pra ver se, ouvindo sua voz falar, podia acreditar que aquela palavra existisse.
De tão cética, repetia mais e mais e já não sabia que língua falava, e, depois, nem mais quem era – aquela moça-menina.
And all this life happening everywhere. Not just here but everywhere. Actually there’s so much more life everywhere else.
They’re listening to music, they’re playing some music around the corners, around every corner but here. All the blossom and the blue water shining above their necks – but not here.
Gliding lights, and greens and perfumes.
Paris, Wien, Praha, Lisbon… stones and marbles and fountains and beautiful angel kids. And here, just a room, in here just an empty mind waiting for something to happen.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

E esse chão? É o mesmo ou também envelhece?

Não sei. Parece que a terra sempre teve essa mesma cor de terra... ou não, quando a gente brincava de fazer bolinhos de barro e a terra não era só seca, como agora, era também macia, uma mousse, uma gelatina...
Mas tudo bem, porque, quando vejo essas roupas, o colant verde, as ombreiras dentro de um tecido amarelo percebo que o passado também faz parte de mim e sou tudo isso aí. Sou a mesma menina que acha lindo um manequim de vitrine numa loja em Porto Alegre. E sou passado e futuro.