terça-feira, 27 de julho de 2010

Poderia dizer que fosse Pilar Ternera, se debruçando sobre a fumaça de algum fogão. Quisera, talvez, dizer que fosse alguém mais etérea, mas não é o que me vem.
São carnes e gestos e jeitos de ser de cama, fogo e cozinha.
Apesar de pequenas, mãos que amassam pão e quenturas de fazer a massa crescer.
No fim do dia, talvez, na poltrona eleita, ficasse de costas pra janela aberta, sentindo e adivinhando os róseos morrendo aos alaranjados e o cheiro de uma panela sempre a esquentar, que fosse água.
Os baldes, cheios de água morna e ramos secos, adocicando os ares da despensa, a toalha bem branca, o sabão de bola com algum óleo de cheirar, a imagem ao fundo de uma lamparina brincava com sombras que crepitavam e de novo o seu ritual, mais um, para a plenitude de o acabar e o iniciar de um novo dia.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Para Caio Fernando Abreu.
Para um pôr-do-sol em Ipatinga ou em qualquer lugar.
Para aqueles que vivem um/o amor (mesmo que seja o amor dos outros).
Para um inverno pra se esquentar com alguém em Porto Alegre.
Para o seu olhar pra fora da janela do trem, correndo ao longo do Bodensee.
Para a minha estória de amor em família.

A linha e o linho - Gilbeto Gil

É a sua vida que eu quero bordar

na minha
Como se eu fosse o pano e você fosse
a linha
E a agulha do real nas mãos
da fantasia
Fosse bordando ponto a ponto
nosso dia-a-dia
E fosse aparecendo aos poucos
nosso amor
Os nossos sentimentos loucos,
nosso amor
O zig-zag do tormento, as cores
da alegria
A curva generosa
da compreensão
Formando a pétala da rosa
da paixão
A sua vida o meu caminho,
nosso amor
Você a linha e eu o linho,
nosso amor
Nossa colcha de cama,
nossa toalha de mesa
Reproduzidos no bordado
A casa, a estrada, a correnteza
O sol, a ave,
a árvore,
o ninho da beleza

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Você me tirou a inocência. Foi isso o de pior que você tirou. Minha inocência e vontade de me dar, toda, por inteiro, sem olhar pra trás, sem querer nada em troca, só um beijo inconsciente no ar enquanto se está dormindo.
(Os verbos não tem sexo, não tem gênero.)
Te imagino sentada numa ladeira de grama seca, joelhos conta o peito. É tão nítida que parece apenas a fotografia de um momento carinhoso que me permiti registrar. Você fumando seu cigarro. A tarde cai. É um pouco frio.
Hoje tenho medo. Não, não é medo; é não ser, é não se importar. Não é medo de me envolver, passar a agulha pelo buraco errado. É de nunca mais me envovler. E é um medo de mentira, porque eu não me importo, estou alheia. E aí, o único medo de verdade que surge é o medo de nunca mais ter medo.
Meu coração. Sabe o que parece? Pétalas de uma flor baratinha que alguém achou bonito arrancar, mas que logo a brincadeira ali do lado chamou mais a atenção e saiu correndo, pisou, de sandalinha, em cima, no chão.
minha verdade nua e crua
piscando, de cílios longos na minha frente
minha vontade
seca como um deserto sem miragem
e a noite desce através dessa música

sexta-feira, 16 de julho de 2010

fazendo uns testes aqui... vamos ver...
talvez mais coisa venha por aí...
beijos
que definhem!
que se matem pelo tédio e desrespeito...
nem todos têm o que merecem, mas alguns merecem o que têm...
arghh...

quinta-feira, 15 de julho de 2010

posso ser apaixonada pelo Andy Garcia?

quarta-feira, 7 de julho de 2010

7 do 7

Ela, de botinas sobre as pedras deslizantes, com um equilíbrio e segurança próprios de sua classe. Nessas épocas em que se esquenta apenas sob o sol, e a sombra úmida incomoda, especialmente pela manhã, talvez fosse mais fácil recordar a lembrança dela.
Por essas ruas, talvez passasse e me cumprimentasse cordialmente, como que vindo da feira ou da loja de aviamentos.
E eu a imaginar o mesmo branco que ela carregava na face pelos braços. Com certeza, suaves, escondidos do sol, como as brincadeiras por entre os lençóis a secar no varal.
As mãos viravam uma imagem que eu decorava antes de dormir. Compridas, de dedos que, se vistos de mais perto, como eu gostaria, mostrariam delicadas veias e artérias. Acostumei-me, no mosaico das telhas de barro de Monte Carmelo, a procurar aquelas mãos, e seu conforto que eu imaginava, pra acalmar as noites de orelha fria e pensamentos que me tomavam o travesseiro de paina.
Algum dia fosse suficiente saber apenas que ela existira de verdade, que não era apenas fruto da imaginação? Que acalanto pensar nisso agora, fitando as folhas do mamoeiro que descansa sobre essa terra vermelha? Esse calor todo que confunde a vista e faz esquecer a idade e em que ano estamos. Sem notícia nenhuma daquela imagem, só as que invento, sempre, antes de dormir, e agora, com os braços nus e vestido ramado de algodão, atravessando a cerca e vindo contra o sol em minha direção.