quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Blade runner blues. Nave espacial. Final de ano e o meu olhar capta alguém se encolhendo da chuva debaixo da ponte.


E que cor terá o céu de 2011?

Que cheiro, além desse sabor de tangerina que me veio agora à boca?

2010 foi a dor e a delícia e a mútua convivência de ambas. Sei quem sou e convivo comigo assim. Gosto de mim, mas o problema nem é esse. Gosto também de outras pessoas. Amo. E, de vez em quando, ao invés de ser só essa pluminha persistente, o barulho de um plástico batendo durante toda a viagem, ele explode, o meu amor, e sangra em intensa hemorragia, quente, colorindo o braço, o joelho e todas as minhas memórias que saem de um minúsculo buraquinho de vulcão. Pode ser alguém que passou com um cheiro, a noite num posto de gasolina, um cabelo de alguém numa fila...

De todo modo, quero mesmo agradecer por 2010. Quero agradecer (e agora, o gosto é de jambo...) por me deixar vir à tona, por me deixar um pouco de quotidiano que, no fim das contas, luto pra ter, em meio a tanta maré e enjôo.

Contas a pagar, poupança, contas pagas, dinheiro na poupança, toda a luta pela manutenção, como diria Tunai. E não é isso? Queremos arte – e eu a quero, sobretudo –, mas, e se o quotidiano vira arte? E a arte de tornar quotidiano arte? Vou lutando pra assim conceber. E não é fácil, às vezes, nem o conceito de pássaros parece desafogar o entorno. Penso, numa fila do fórum, uma colega do lado com perfume forte (“tenha paciência para aguardar o troco do Xerox”), será que decepcionei meus pais? Será que dão um sorriso amarelo quando alguém pergunta: e a Maíra, o que anda fazendo? E quando vejo alguém dedilhando um violão, quando alguém, batendo o atabaque, fecha os olhos em direção ao céu, quando tudo me arrepia, sei o que é, sei que alguma coisa pulsa e não é por causa de filas, nem roupas apertadas que te fazem suar as axilas... Ai, ai... Que vontade de me dedicar a um ócio que penso merecer... Uma fogueira, uma rede, um mar na Grécia, o som de cachoeira... Cachorros em roda, filhos, talvez, água e piscina e coqueiros, um amor do lado (ou será que só e ainda na minha cabeça?)... Chuva, nuvem e céu, tudo a seu tempo e eu com a dita sabedoria de esperar sem esperar...

Frutas, derramem todo esse mel e suco goela abaixo. Sei que nada de pior poderá acontecer, já tive o meu momento e nem que seja pra subir em cima de um toco, saberei o que é superar e sei que passou...

Só não passa o amor de amora madura se derretendo no coração.

Vem, 2011! Vem, que quero ver que cara você tem!!!

3 comentários:

Rose Dayanne disse...

Tem a cara que a gente quiser...
Eu quero 2011 com cara de broa de milho, requeijão e iogurte de morango...
Cara de som, melodia, estrada, poeira, sonhos, risos e luz...
Que seja o Cara ou a Cara mais linda que nós merecemos...
Cor azul, verde, amarelo, laranja, todas as cores do arco íris...
Tudo junto, todos juntos!
Sempre!

Anônimo disse...

Maíra,

dois mil e onze vai ser bom demais, mesmo que o mundo NÃO acabe em 2012. Que sacanagem do calendário maia! O mundo não pode acabar antes de eu me aposentar e ficar bem à toa, coçando e vendo sessão da tarde.
Até lá, é muito serviço pra você e pra mim - e sobra filha pra todo mundo, pode crer.
Seu pai se orgulha de você (e dos menino-homem) e agora queria fazer um enorme outdoor com a foto dos três - Homenagem à escola pública.
I am proud of you! Genau das...

Daddy BB King of Black Coconut Süssigkeiten

Anônimo disse...

Il semble que vous soyez un expert dans ce domaine, vos remarques sont tres interessantes, merci.

- Daniel