quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

recalculating


Três mineiros em Nova York, descobrindo o que é queimar a cara no frio. O rosto fica vermelho na hora, mas depois continua. Somos marinheiros de primeira viagem, pensamos, mas, aí, depois descobrimos que o frio lá não ta normal nem pros gringos (aliás, lá, os gringos eramos nós...). A não ser pra uns machos de bermuda e moletonzinho fino - inspiração para seu Valdemar.
Em Niagara Falls, o japinha pega um torrão de gelo e arremessa, querendo atingir a “cachoeira”. Acho que se empolgou demais na cena do Super-homem. A japinha mais velha, talvez mãe da figura, me olha de canto de olho, com ar de deboche pela cena vista.
Em Niagara Falls também tem flanelinha, no velho estilo (old fashioned). Um fica na esquina pra contar que tem vaga lá em cima. O outro fica no estacionamento, tentando falar em espanhol com você. Cincão ($$!). A diferença é que a gente paga antes. Aliás, tudo nos Estados Unidos se paga antes. É um medo do povo sair correndo e não pagar, sei lá. Estacionamento se paga antes, comida se paga antes, cerveja na boate, no bar. Só não se paga antes no restaurante, mas, mesmo assim, quase, porque trazem a conta sem você pedir. E ai de você se você permanecer no restaurante, ainda mais se for chinês, como o Ho Ho, em Greece, onde a comida é noventa por cento doce. E, por falar em doce, o americano é chegado num doce. O que é doce é mais doce (como o doce de batata doce...), e o que é suposed to be salgado, é doce. A costela de porco vem doce, salsicha vem com melado - acompanhamento das panquecas (“melado é melhor do que geléia”, diria o Homer), assim como frangos caramelizados para o olho comer. O sal é mais salgado também, juro. Mas a comida é sem sal. Então não sei a medida que os gringos usam, deve ser pipeta...
A velharada da Florida é toda garotona. Aliás, os seniors, que é a palavra politicamente correta para os grandpas. Eles usam tatuagem, uns têm cabelão, com suas respectivas a tira-colo. Andam de Harley Davidson, carrões conversíveis como Porsches, Lotus, Ferraris. Muitos veteranos de guerra para muitas guerras, como lembraria o Ita: Vietnã, Coréia, Golfo, Iraque, e por aí vai. Os nossos heróis pracinhas, se estiveram dando conta do tranco, serão, no máximo, os reminiscentes da Segunda Guerra Mundial.
Os recos novos, vestindo as fardas camufladas com desenhos que, de perto, percebe-se, são pixels abertos, fazem barba coletiva no banheiro masculino no aeroporto de Atlanta. Pelo jeito, estão indo pra casa. No folheto, o governo “convida” abertamente para que os chicanos, os latinos, e quem queira, ingressem na Marinha, pois conseguirão cidadania americana. Na cara dura.
Raoni era o pai. Nos comprou roupinhas de frio para vestirmos no aeroporto de Newark, New Jersey. Dentro do carro alugado, um Volkswagen Jetta, batata frita Prinkles, Doritos, Capuccino gelado (gelado mesmo) da Starbucks, Gatorade, sucos Del Valle, água, Red Bull, chocolates, travesseiro, coberta. O índio, além de ter alugado o carro, nos reservou hotel e era o motorista (“pai, falta muito pra chegar?”).
O GPS, aliás, a GPS, uma vez que era uma moça que nos emprestava a voz, foi mamata essencial. Se bem que a pobre, coitada, ficava biruta em Nova York, aí, a bichinha soltava o “recalculating”.
A neve branca no norte. A mangueira florindo no sul. A lua, só vi na Florida, e na despedida, no aeroporto. O cabelo do Raoni congelou. A Maíra escorregou, quase caiu. O Ita empolgou com o jogo de dardos. Guggenheim, Central Park, em Nova Iorque, Smoke House, em Brockport, a Soho, em Rochester, shopping, em Greece, frio em Buffalo, o mar, em Fort Lauderdale, os loucos de South Beach, a neve, a neve, e três meninos que nunca se separaram, três que nunca crescem, que não param de rir na madrugada, dormindo juntos nas camas emendadas, escaneando as imagens do cenário, cantando e contando besteira, as mesmas, ao longo desses anos. Os três Oliveira Borges de nascimento, do Saraiva, de Porto Alegre, do mundo, foram lá e puderam, foram lá e beberam, tomaram, sorveram o sorvete, desenharam no céu de Manhattan, riscaram o chão, dançaram o fandango e mostraram que ninguém tasca nesse amor entre três irmãos.

2 comentários:

Rose Dayanne disse...

Eita, como vcs aproveitaram...
Q bom...

Anônimo disse...
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