quinta-feira, 13 de maio de 2010

Queria pedir desculpas e queria dar desculpas. Deito num colo e não encontro nada. É frio. É frio na asa norte e em todo lugar. O vidro embaça e por pouco não coloco lenha na fogueira. Depois de uma rótula, ou rotatória, você vira à direita ou imagina que vira e imagina o que encontra e quer mas não quer encontrar.
A noite é fria e minha garganta congelou há um tempo, não consigo derreter a pedra. Nem no sol do recreio, nem naquele que existia no intervalo do almoço.
Uma mão que sua na medida certa e me passeia as costas sem camisa, mas sem frio. Eu, de bruços, eu, querendo estar de bruços, abraçando a cama inteira. Travesseiros e roupa de cama limpa como desculpas.
Falo “te amo” para o travesseiro, falo “te amo” para o Ricardinho, falo “te amo” pra mim mesma, segurando minha própria mão entrelaçada. O aquário secou, de cal e calcário e águas verdes que evaporaram. Os peixes, não sei quantos morreram. Tudo acre e salgado. Molho o chão pra ver as coisas respirarem. A flor é amarela, descartável, dura pouco e eu insisto. Cores que viram um borrão no meu fundo de olho.
Orelha dos outros, queixo dos outros, unhas, cabelos, onde enfio os dedos e sei que não estou lá. Tudo é ar que escapa de um furinho pequeno do balão, pele fina que sobra como um peito murcho. Tudo se esvazia antes mesmo de eu chegar, antes de eu tentar qualquer coisa. Meu corpo vira uma fita sem direção, num balé tresloucado que, de bonito, só tem a textura do meu corpo em si. E nada basta.
Água. Água. Quero água. Traga-me água.