quarta-feira, 7 de julho de 2010

7 do 7

Ela, de botinas sobre as pedras deslizantes, com um equilíbrio e segurança próprios de sua classe. Nessas épocas em que se esquenta apenas sob o sol, e a sombra úmida incomoda, especialmente pela manhã, talvez fosse mais fácil recordar a lembrança dela.
Por essas ruas, talvez passasse e me cumprimentasse cordialmente, como que vindo da feira ou da loja de aviamentos.
E eu a imaginar o mesmo branco que ela carregava na face pelos braços. Com certeza, suaves, escondidos do sol, como as brincadeiras por entre os lençóis a secar no varal.
As mãos viravam uma imagem que eu decorava antes de dormir. Compridas, de dedos que, se vistos de mais perto, como eu gostaria, mostrariam delicadas veias e artérias. Acostumei-me, no mosaico das telhas de barro de Monte Carmelo, a procurar aquelas mãos, e seu conforto que eu imaginava, pra acalmar as noites de orelha fria e pensamentos que me tomavam o travesseiro de paina.
Algum dia fosse suficiente saber apenas que ela existira de verdade, que não era apenas fruto da imaginação? Que acalanto pensar nisso agora, fitando as folhas do mamoeiro que descansa sobre essa terra vermelha? Esse calor todo que confunde a vista e faz esquecer a idade e em que ano estamos. Sem notícia nenhuma daquela imagem, só as que invento, sempre, antes de dormir, e agora, com os braços nus e vestido ramado de algodão, atravessando a cerca e vindo contra o sol em minha direção.

Nenhum comentário: