terça-feira, 27 de julho de 2010

Poderia dizer que fosse Pilar Ternera, se debruçando sobre a fumaça de algum fogão. Quisera, talvez, dizer que fosse alguém mais etérea, mas não é o que me vem.
São carnes e gestos e jeitos de ser de cama, fogo e cozinha.
Apesar de pequenas, mãos que amassam pão e quenturas de fazer a massa crescer.
No fim do dia, talvez, na poltrona eleita, ficasse de costas pra janela aberta, sentindo e adivinhando os róseos morrendo aos alaranjados e o cheiro de uma panela sempre a esquentar, que fosse água.
Os baldes, cheios de água morna e ramos secos, adocicando os ares da despensa, a toalha bem branca, o sabão de bola com algum óleo de cheirar, a imagem ao fundo de uma lamparina brincava com sombras que crepitavam e de novo o seu ritual, mais um, para a plenitude de o acabar e o iniciar de um novo dia.

Um comentário:

Fernanda disse...

Querida Maíra, o seu texto foi o presente de aniversário mais autêntico e poético que já recebi.
Inspirado nos Cem Anos de Solidão e no jeito canceriano de ser...
Traduz a essência com precisão.
Você é uma grande escritora! Grata.