segunda-feira, 9 de julho de 2007

alma de caipira

Domingo pe-de serra. Taquaruçu, agora reconhecidamente com seu ç, é distrito de Palmas, mas é outro mundo. A começar pela temperatura - que é uns seis graus a menos do que lá em baixo... sério! Festival gastronômico, não muita variedade, mas com um beju com queijo delicioso, que ganhou terceiro lugar.

Renato, Chico, João Teixeira. Pai e filhos. Cantando de graça e de pertinho.

"Amanheceu, peguei a viola e fui viajar...". E que vontade de viajar pro meu sertão, meu cerrado de São João, fogão pra botar lenha e banana pra aquecer.

"Eu conheço todos os sotaques...", principalmente, mergulhada nesta Babel acá, gente de tudo quanto é lado, nem tanto mineiro, pra compartilhar a língua arrastada, que não é de preguiça, mas de zelo, de curtição de cada "erre", pro netinho, pra visita escutar bem atenta ao causo, ao que se dá discussão - "põe sentido!!".

Renato Teixeira é só aquele que vc acha que já conhece. A impressão minha e do meu marido: ele parece seu pai... Não sei, acho que é a pouca distância que ele coloca entre ele e o público. Com seu cigarrinho de palha na algibeira. Parece alguém de casa, conhecido e fala a linguagem que o povo sabe e gosta, aquela do coração. Passei o show inteiro me arrepiando, não do frio, mas da minha alma acesa, precisando de mais fogo e quentão. Minha alma de caipira.

A caipirice é uma coisa tão empregnada e indelével, graças a Deus, que não adianta o que vc venha a fazer da sua vida, pois ela irá te acompanhar. Felizes daqueles que sabem harmonizar em si essa erudição dos mais calmos e pacíficos com o andar da vida, daqueles que, como meu avô, têm a sabedoria de olhar tudo muito devagar, de canto de olho, enquanto morde o bigode a matutar. Felizes daqueles que sabem ser felizes sendo caipiras.
Fiquei ali pensando o quanto a saudade é um sentimento que define o caipira. A saudade acompanhada da melancolia. Saudade da roça quando se vai pra cidade. Saudade da morena da cidade, quando se volta pra roça. A cantiga do anu, o sol brilhando no cascalho, o barulho seco da enxada, a estrada longínqua que se esvai na miragem do calor... É o menino com as marmitas do almoço que não chega, é o filho que foi estudar na cidade e não chega, é os homi que foram atrás de algum animal escapolido e não chegam... A minha caipirice se vê no enxergar a estrada e não ver nada, só o próprio pensamento.

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