quarta-feira, 11 de julho de 2007

inventando verdades

Tá realmente difícil arrumar uma brecha pra escrever algo. Não que as coisas não fiquem rondando minha cabeça, é falta de tempo mesmo, muito trabalho (no momento, 16 mandados de segurança estão sobre minha mesa - não contem pra ninguém...).

Queria ter podido comentar com toda a propriedade merecida a entrevista que vi no especial do Roda Viva do FLIP, na segunda-feira, com Guillermo Arriaga, escritor mexicano e roteirista de Amores Brutos, 21 Gramas e Babel. Cara realmente muito inteligente, com a sensibilidade necessária para fazer o que faz, sendo ainda homem e pai de família. Ele falou, entre várias coisas interessantes (a perguntas muitas vezes não tão interessantes), que ele é um escritor de ficar maturando uma idéia por anos e anos. Contou que quando tinha 12 anos e foi caçar no deserto com seus amigos, tinham um rifle em mãos e leram em sua caixa que os tiros alcançavam uma distância de 5 milhas. Um dos amigos duvidou e queria atiram rumo aos carros, pra ver se realmente acertava. Guillermo disse que, por Deus, não tentaram, mas aquilo ficou em sua cabeça por todo esse tempo - o que acabou virando parte da trama de Babel (perdão se estou estragando alguma coisa pra alguém que ainda não assistiu...).

Fiquei pensando sobre isso: como uma imagem pode se fazer tão real em nossas cabeças ao ponto de perturbar. Quando somos crianças, esses traumas são tão grandes por termos sugerido algo terrível para nossas cabeças, que não conseguimos esquecer, mesmo sem termos feito qualquer coisa. A culpa também pesa bastante, ouvimos as vozes dos nossos pais, professores nos repreendendo.

Uma mesma passagem sobre isso, mas, de maneira mais cômica, está em Antes do pôr-do-sol, quando a Celine (Julie Delpy), entre as várias conversas durante todo o filme, conta que, quando ela era pequena, sua mãe era tão preocupada por ela voltar à noite sozinha da aula de piano, que dizia que era pra ela tomar cuidado com os homens que ficavam em certa rua a mostrar seus pênis, para passar medo na filha. No filme, Celine conta que de tão neuróticas que eram aquelas afirmações da mãe, que, até hoje ela não sabia se as imagens que ela tinha na cabeça desses episódios eram apenas fruto de sua imaginação, ou se realmente os teria visto alguma vez mostrando seus cocks pra fora.

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