quarta-feira, 8 de abril de 2009


Ontem, indo pra casa numa tarde cinzenta de chuva e faróis ligados ainda de dia, alguma conexão com uma névoa persistente e foi natural escutar o som de um caminho que existe entre eu e você. K´s Choice começou na pista com a impertinência de sempre (“not an addict”). E enquanto aquela voz rouca gemia, pensei, sim, nossa amizade não mudou, não mudou ao longo desses anos, mas..., e a gente? Onde fomos parar? Cadê eu, cadê você? Meninos de vinte anos descobrindo o mundo, desbravando sem pensar, sem culpa no cartório. Cadê nossa companhia um do outro? Seu carro sempre limpo, nossa presença, os discos, as músicas, cerveja em qualquer lugar, cadê tudo isso?
Eu não sei se me é suficiente saber que existem essas imagens na cabeça pra quando se quiser consultar, ou saber que um amor subsiste ao tempo sem a presença de seus personagens. Eu sou uma pessoa inconformada. In-con-for-ma-da. E as dores não me doem menos pelo entendimento, sou como uma criança que se representa no limite entre entender e permanecer querendo.
E então? Fico com esse esparadrapo aparente, destoando da minha roupa limpa - objeto de olhares no elevador. Fico numas migalhas de sentir perfumes em pescoços por poucos segundos e, depois, me valer da lembrança dos cheiros pra me embalar o sono. É nisso que pareço me resumir.
Nosso abraço é sempre tão apertado... Há verdade nele. Há verdade em nós nos abraçando...
De noite, com as pedras na rua a interagir com algum carro, em Munique, com a cabeça encostada no travesseiro pra não cair de tanta vontade, de tanta lembrança, eu sonhava, sonhava em afundar o nariz de lágrimas em você..., tantos momentos, tantos momentos em que segurava sua mão na minha debaixo da coberta... Depois, 2006, 2007, 2008..., olhar pela janela não aliviava, e eu suava a mão, suava, agonizava, e esperava ver o conforto do seu perfil no carro, cheiro de roupa lavada e perfumes, seu cabelo curto, longo, seu nariz de cartilagem dura, rescue, rescue...
Vou me salvando de necessidade, me agarrando nas gramíneas até a superfície, vou fazendo trinta anos, dez, vou ficando velha e menina de vontades e sonhos macios com cheiro de Comfort, porque não quero mudar por dentro, não quero deixar de esperar pelo seu braço na madrugada...