terça-feira, 16 de junho de 2009

Eu brinco de exibir minha irmã. Ninguém percebe. Eu finjo que não faço. Ela é quase uma desculpa inventada quando peço pra que os outros não façam barulho, porque ela está estudando. Mas, aí, durante um intervalo, ela desce, com short ou moletom, dependendo da estação. Ela faz bauru. Ela oferece. Ninguém aceita. Ficam olhando ela, imaginando o que é ter dezessete anos com a tabela periódica pregada na parede e poder sair, das poucas vezes que ela o faz por esses tempos, de gola rolê, tão esguia (sem saber dizer essa palavra), comprida pra cima e bonita. Fico no sofá e a vejo sair. Fico aqui. A cama do lado, sempre feita, o travesseiro com cheiro de cabelo e perfume, suas roupas penduradas no armário, os livros espalhados, o holofote ligado à noite, suas mãos longas quando gesticulam... Meu olhar miúdo registra o que a moça-mulher estabelece para o meu objeto sem alcance, minha vontade-admiração de ser como ela é, passando o lápis de olho no espelho, segurando uma taça na fotografia. E o tempo sabe o que guarda, traça uma dor de olhar a cama ao lado e não ver nada além de roupas empilhadas. O tempo estica os cabelos. O rastro que ele deixa fica só em mim, a olhar o cair da tarde e imaginar sua mão segurando a minha, e eu, pequena, fingindo de não perceber pelo caminho da calçada.