terça-feira, 22 de julho de 2008

Eu não sou correspondida, não sou uma pessoa correspondida – aviso logo. Falo da minha avó, como se ela fosse um personagem, e ela nem sabe disso. Meus pais, meus irmãos, meus amigos, a minha alegoria, meus primos, meus tios... todos me amam menos e ninguém sabe. Escrevo, homenageio e “tá legal”, conto, disserto, poetizo qualquer coisa – nua, crua, displicente e cuidadosa, coisa de dentro onde nem eu sei, onde nem avisto – Ipê amarelo – e “tá legal”.
Nem sei se quero ter filhos; já há tantos destinatários para o meu amor...
Minha vontade não é de línguas, sucos, caldos, sulcos, mucosas, não. Isso deixo pras ruas. Meu trick, meu tique é querer rostos, bochechas, nucas de cabelos, alisá-los, olhar olho no olho, sentir hálito, orelhas, mãos, mãos... O que quero é uma fresta de sol, aquecendo de manhã no quarto da mãe, quero um jeito, um silêncio sem medo, uns desenhos no vidro da janela a inventar e imaginar coisas. Sexo é pra corredor, é pra beco. Isso, não. Isso daqui, não. E é o mais vil, é o que a velha aponta e cochicha com a menina, de cara feia. É o dever ser contida na casca de mulher casada – “onde já se viu?” É um pedinte, é um sufoco, é um pé sujo, um joelho machucado, é um vendedor de ratos falsos na porta da Americanas – “onde já se viu?”. E fica isso, fica essa falta de cristianismo comigo, o olho torto. Sou aleijada, estou sentada em cima do mijo da metrópole, estou na esquina, no chão, no frio, de esparadrapos, importunando o homem limpo de terno, a mulher de sacolas, me misturando aos pombos, toda a patologia de uma existência que incomoda. “Pare de olhar, menino!”

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