quarta-feira, 5 de novembro de 2008

a foto amassada no bolso, fina de tanto tato suado de mão. levemente curvada, em formato de carteira, bolso. preto e branco. era de lambe-lambe. ainda existia lambe-lambe. na praça. toda hora ele pegava a foto, com cuidado, olhava, como um rosário dentro do bolso. aquilo, aquele calvário, aquele praticamente ritual fazia-o sofrer e pensar como sofria. aquilo foi durante a viagem inteira. começava e recomeçava.
o que eu tinha visto foi de rabo de olho, curiosidades.
lá pelas tantas, com um pouco de suor na testa e sulcos estáticos na face, ele me apontou, me mostrou, mas nao disse nada. duas crianças na frente, uma menor do que a outra, menino e menina. atrás, uma mulher, um homem. moletons. jovens. pequeno curto cenário de praça de metrópole, engolida por prédios enormes e cinzentos.
não deu pra ver se ele era aquele rapaz da foto, aquele pai novo, mas, responsável, ou se algum dia ele já foi.

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