terça-feira, 18 de novembro de 2008

Há uma dor, um peso aqui no meu peito que parece maior do que qualquer coisa. A mão de um gigante depositada. Não dá pra chorar. Evito esmurrar as paredes como já fiz antes. Não é coisa de mulher maltratar as próprias mãos, surrando seres inanimados.
No carro, a música inspira, tento trocar de rádio, tento mudar de estação, mas qualquer coisa é prato, é assunto de você. Vejo sinais o tempo todo, vejo todos os sinais. Só não vejo você. Eu tenho vinte e oitos anos, sou mulher feita, tenho medo de pouca coisa, acho que sou respeitada e não sou sombra de ninguém, mas você, você ganhou o primeiro lugar, você já ganhou o troféu – ninguém, nunca, me fez sofrer tanto.
E isso me faz vontade de bater em alguém, de gritar, de sacudir e perguntar “o que você quer?” Você não me dá o suficiente, nem o mínimo, nada, nada. Não dá pra ser de ferro. Agüento os trancos, vou agüentando, vou engolindo, escondo tudo o que me interessa pra debaixo de alguma moita, algum arbusto, vai sendo suficiente, à custa de algum nó, mas vou conseguindo. E eu? Eu com você sou uma mulher que apanha do marido, depois se molha lavando as roupas dele, fazendo o que lhe prefere, lhe reservando o pedaço preferido do frango. O que os outros fazem com você você faz comigo. Você me bate e eu apanho. Calada, num canto mofado de parede. Não faço nada, só sofro, só choro escondida sobre o chão de vermelhão, mordo os lábios, com medo do filho perceber. Você é a mais masculina violenta das pessoas.

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