quarta-feira, 26 de novembro de 2008

A moça chegou. Cabeça baixa. Violão cello. Tênis baixo sem meias. Se sentou na carteira surrada de escola, do meu lado, brincando de apoiar as pontas dos pés no chão. Cabelo preso. Depois solto. Mãos pequenas. Não, finas. Mãos finas. Como é que ela fazia pra tocas as cordas com aquelas unhazinhas?
Nervosismo. Foram chamando um por um. Uma demora. Pensei em puxar assunto. Mas não queria atrapalhar aquele rito de concentração, por mais peculiar que fosse.
Eu não fumava, não roia as unhas. Como combater a minha compulsão, sem vontade de fazer nada?
Olhei as plantas. O chão de cimento grosso. As plantas eram velhas, de verde-escuro velho, mais denso e escuro de dia nublado dessas manhãs conhecidas. As plantas deviam ser o xodó de alguma faxineira.
Alunos. Janelas. Xerox. Silêncio. Pássaros. Carros de longe.
Chamaram mais um. Mas não vi voltar ninguém.
A moça do violão cello cruzou as pernas. Olhava longe. Não mexia o pescoço. O tornozelinho tão pequeno aparecendo por aquele buraquinho sem meia.
Resolvi dar uma caminhada, fingindo me interessar pelas plantas, tocando, no bolso, o troco do ônibus. Chamaram a menina. Olhei pra trás, entendi que era ela, mas não deu pra ouvir o nome, só uma sonoridade familiar de dois sobrenomes.
Lá de longe, vi que ela saiu. Andava tão adolescente, meio desritmada, braços longos de menina. Não era um sorriso, era um canto, um pedaço, uma coisa de olhar pra baixo, mas querer olhar pra cima, e o pescoço se inclinava nesse movimento. O peso do case parecia não incomodar. Vi ela passar. Agora, confiante, mais desinibida, me deixou que os olhos sorrissem. Tudo foi lento.
A espera já não era tão mais longa.

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