quarta-feira, 2 de setembro de 2009

r.e.d

A gente achava que tava em Paris, se entupindo de cigarros sem filtro durante as intermináveis madrugadas que tinham só um assunto: o maio de 68. Não. O clima era tropical. Havia cigarro, mas, também, muita cerveja gelada que a gente ia bebendo, bebendo e discutindo e tinha que ir ao banheiro mijar naquelas pocilgas quase confortáveis. Aquilo ia adentrando até que o garçom varria nosso pé e decidíamos ir a outro boteco e a outro. Era tanto a se discutir. Uns otimistas carregavam umas frases debaixo dos braços: “to sentindo que agora a coisa vai mudar!” Os outros, que podiam ser do time daqueles que dão vexame, gritavam, quase cuspindo e chamando a atenção das crianças que ainda estivessem acordadas: “ta tudo uma merrrrrda!”.
E ali, uma idéia de uma nova charge, de um novo cartaz pra ser colado com grude subversivo nas madrugadas, de uma nova camiseta. Tudo se transformava em imagem e idéia se transformava em idéia.
Hoje, vendo essa foto aqui em preto e branco, camisa pólo apertada, grandes óculos dando charme e época pros adornos daquela imagem, penso como era bom. Como era cru e suficiente. Panfletos e gritaria e o lazer era no bar pra discutir depois da passeata, depois da assembléia, do comício. As crianças se aninhavam e pregavam adesivos pra todo lugar e em si mesmas, reclamavam e choravam de vontade de ir embora. Hoje, cresceram. Não sei o que estão discutindo no bar. Alguma coisa deve ter ficado. Alguma coisa sobrou.
Hoje, não sei. Hoje, só essa minha nostalgia de olhar a fotografia. Preto e branco. Óculos. Figurante. E tudo ficava bem na fotografia.

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