quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Você colhia lavanda. Era lavanda que você colhia. Nunca tínhamos visto lavanda antes, mas lembramos da palavra em inglês: lavender.
Era um campo, uma grama pra se deitar. Tudo me lembrava quadros impressionistas. E queria tanto que você me dedicasse um dos seus... Mesmo esse ar bucólico podia parecer com a gente. Se ontem era Londres e pouca luz, neblina dentro dos pubs, boa fumaça pra sorver sem grilos, hoje, isso aqui quase doendo de tanta cor. E tudo é bom. “Com você, tudo é bom”. Estar em Tupaciguara ou atravessar uma rua em Berlin. Tudo pode ser nosso na medida em que as coisas que estão em si e em nós nos cabem.
Eu tentei desenhar. Sei que fotografei. Pontos brancos e falta de fôlego no meio a um roxo-lilás. E lembrava sabão em pó, mas era tão bom. Ainda bem que trouxe uma garrafa de vinho escondida e encaixou bem.
De longe, um cachorro meio amarelo. Pensei, não existem cachorros por aqui. Chamamos, gritamos, mas ele parecia um lagarto, de tão arisco, nem olhou pro nosso rumo. Parecia uma pessoa, um europeu apressado indo trabalhar.
Rimos, deitamos, bebemos. Lembramos de umas músicas e cantamos alto. Ninguém ia entender se escutasse. Ninguém ia entender nada, como ninguém entendeu e nunca vai entender. Mas enquanto existir nós, enquanto existir a vontade e a falta de medo, tudo vai ser mais do que suficiente.

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