sexta-feira, 19 de setembro de 2008

e coma todo seu cereal!

De manhã, eram sete horas. O vidro da janela bastante embaçado. O rádio ligado dava as notícias, com voz de locutor dos anos 60 e sotaque gauchesco, e a temperatura na Capital. Meu pai, a essas alturas de remelas de meninos relutantes em se levantar, já tinha enchido a bacia com água quente do chuveiro para que pudéssemos lavar o rosto sem maiores traumas. Ele arrumava o café, que podia ser mingau, ou algum leite requentado com gosto de geladeira, o que, no meu entendimento, era aquela reminiscência de melancia impertinente. Íamos espremidos na F-1000, roçando as fofas jaquetas de nylon. Os prédios perto da Praça de Shiga eram engolidos pela névoa, o portão do cemitério com gordas oferendas, os pneus deslizavam sobre a pedra úmida e rosada, no rádio do carro, pela Atlântida FM, REM ou qualquer coisa alimentando a minha ávida puberdade. Ele, depois do Plácido de Castro, poderia voltar para o apartamento, preparar-lhe um chimarrão, tentar esquentar os pés no aquecedor improvisado, encarar a teoria crítica e adentrar.
Alguns poderiam pensar como lhe rendia o tempo, se, ainda, ao meio dia, era hora de nos buscar na escola, e, talvez, na noite precoce do inverno portoalegrense, fosse também o dia de ir ao Zaffari, e que ainda havia a esposa antes dos trinta com quem se ocupar, além dos momentos de Instituto Goethe, de bicicleta no Parque Farroupilha, no Parque da Marinha ou nas várias praças que circundavam o apartamento na Ariovaldo Pinheiro. Sinceramente, não sei. Sei é que o bolsista do DAAD e aluno do programa de doutorado na UFRGS era também o full time daddy, que, em termos de ser um doutorando, fazia disso, pelo menos a nós, filhos, mais uma característica do que uma condição.
(suspiro...)

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