quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Ele me abordou perto da mesa dos canapés. Canapés... é uma palavra muito chique pr´aqueles salgadinhos. Ficamos com aquele ar de que aquela coisa de casamento, aquela emoção forçada toda não era coisa pra dois peixes fora d´água naquela situação como a gente, confundindo programa de sábado à noite com festa de casamento. Nós, com aquelas caras de espertos e roupas um pouco fora do tom.
- Pra onde você vai depois?
- como assim?
- depois daqui.
- não, não tem depois...
- você tá com quem?
- a tia da minha amiga tá casando...
Acabamos na mesma mesa, tomando cerveja como no boteco. Às vezes, passavam aquelas batidas duvidosas de pêssego. Os copos se enchiam sem a gente perceber. Eu sentia o perfume dele no caminho pro banheiro. Quanto mais cerveja colocavam no meu copo sem eu ver, mais eu ia ao banheiro e me dava mais vontade e coragem, durante aqueles momentos de reflexão nos agachamentos desconfortáveis de salto alto, de sentir a camisa azul clara dele por debaixo do blazer.
Mas voltar pra mesa significava constatar novamente como as festas de casamento sempre são iluminadas demais, acho que é pra espantar esse negócio de querer consolar a irmã solteira que vai ficando pra trás, eles fazem questão de acabar com essa coisa de meia luz. Alguns adolescentes mais ousados, ou descabeçados, bebendo escondido no jardim, conversando sabe Deus lá o quê, se beijam e se agarram como a coisa mais normal do mundo, mas e eu, eu nem estudante era mais... Que desculpa eu ia dar? Além do mais, eu tava de carona, vim espremida, quase no colo da vovozinha da minha amiga, ia dormir na casa dela...
De qualquer maneira, quando a bandinha já estava na fase Whiskey a gogo, já tínhamos conversado até sobre as irmãs dele, o que me acendia uma luz vermelha pra esse tipo de intimidade familiar, estava indo, de novo, ao banheiro, e ele me puxou pela mão, mas continuou sentado, se colocando tão perto, que praticamente colou seu rosto na minha barriga. Comecei a achar que tava todo mundo me olhando, mas o meu sovaco e minhas mãos suaram de repente e acabei me debruçando sobre ele, em pé, ali mesmo. A minha impressão era de que aqueles priminhos com os mini terninhos alugados se esfregando pelo chão, brincando de jogar frisby com os pratos descartáveis, se esbarravam em mim, e as tias gordas, já com os pés inchados, sonolentas sobre os cotovelos, olhavam de canto de olho, pra quem estivesse do lado, pra perguntar “quem é aquela ali?”. Ai, aquilo tudo foi me dando uma coisa ruim, e, num súbito, acabamos nos escorregando para o jardim também, contra o muro de hera, perdendo completamente o escrúpulo...
Conselho de etiqueta: não se acha homem pra casar em casamentos. E ponto.