segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Não quero mais ser. Só quero voltar. Voltar pra um 85 em que minha tia Palila assobiava ao portão e corríamos ao seu encontro.
Por que é que qualquer objeto, qualquer pálida sombra de qualquer coisa daquele tempo me conforta dolorosamente agora, querendo me transpor praquelas paisagens mornas de aproveitar o quintal, de se perder no quintal? Qualquer coisa pra um 86 longínquo, qualquer cabeça de boneca arrancada, a máquina de tirar fotos que surpreendia com água... Por que? Por que qualquer imagem do pé de limão me convida agora muito mais do que qualquer coisa que eu possa ter ou querer aqui? Não há confortos, não há confortos! Não há Lucas e Cecília para chamar do outro lado do muro. Não há grama, piscina, pedra quente, não há o tapete de linha azul, não há nada, nem fresta de sol de manhã, nem dia de faltar da escola, nem nada, nada. As pessoas foram para algum buraco do tempo, parece que só eu fiquei aqui nesse meio de caminho...
O aramado amarelo, a pintura de tinta a óleo que nunca se secava, o telefone, o som do telefone, as cadeiras de vime, o cheiro do armário da copa, os pratos pendurados na parede, os bibelôs de viagem na sala pequena, o aparador, as fotografias, o carpete verde, os discos, as estantes, o bancão... tudo isso me traria agora mais conforto do que qualquer travesseiro, qualquer banho quente, objetos tão cheios de vida e Maíra em mim.

2 comentários:

Lucas disse...

cheiro de revista antiga...

http://caieca.multiply.com/photos/album/5/Revista_Manchete_anos_80#121.jpg

Maíra Selva disse...

e gosto também...